…E vi os barcos, os muitos barcos que passaram na palma da minha mão, onde desenhei ilhas. Vi os dias em que me davam papa e me contavam a história da cabra cabrês e dos saltos dela por cima dos montes, carregando porquinhos na sua barriga (Eu sou a cabra cabrês. Salto-te em cima e faço-te em três). Fiquei na disposição legal do verbo ficar, na arquitectura pleonástica do meu mundo, quando ele era verde, visto pelas lentes de uns óculos em forma de borboleta de plástico e o carrossel do Campo de São Francisco, onde havia uma panela gigante, que me levava dentro, como se eu fosse o João Ratão e a minha mãe a Carochinha. Há muito tempo, já, que me deixei ficar entre as vírgulas e os compassos num impedimento de movimentos e lembro os atrevimentos da minha infância: pequeninas perdas, poucos desgostos de amor e tantos amigos, como os sete anões. Fiquei num olhar cúmplice para a ilha que me viu nascer, de dentro para fora, como se o mar aonde pude abraçar, um dia, toda a minha gente e onde (lhes) escrevi fosse, pura e simplesmente, fácil de encontrar como a Casa de Chocolate ou o caminho de volta a casa do Polegarzinho.
Fiquei com a Gata Borralheira, a Alice do país das Maravilhas e o Capuchinho Vermelho. Fiquei de sandálias inglesas ao portão de casa do avô, à espera dele, para comermos um gelado no café Central e ele me contar quantos gnomos encontrou pelo caminho, o que lhe disseram, se já começaram a preparar o Natal. Fiquei com a certeza de que as estórias que me contaram, enquanto eu adormecia são reais. Fiquei de vestido de folhos e trança no cabelo com a ideia de que a minha mala era a do Sport Billy e de que não vou acordar, porque quando eu fui ter com as fadas eu vi os meus barcos e dentro deles estavam os meus Peter Pan. Porque preciso deles, não vou voltar. Logo à noite vou tomar sumo com a Pantera Cor-de-Rosa. Amanhã vou lanchar com a Branca de Neve. E fico com as fadas, porque como o poeta, eu também, “creio nelas”…
“ As fadas eu creio nelas! / Umas são moças e belas, /Outras velhas de pasmar…/Umas vivem nos rochedos, / Outras, pelos arvoredos, / Outras à beira do mar… (…)” *
* excerto de As Fadas de Antero de Quental
MARia aMARo ( Suplemento de Cultura nº 7,Açoriano Oriental 25.10.2005)
2 comentários:
Sininho é uma alcunha... Assim nã vale! ;)
Gostei, outra vez, muito!
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