terça-feira, janeiro 07, 2014

A “Lotaria” do Senhor Embaixador

 Li, a propósito da morte de Eusébio, várias coisas. Ouvi dezenas de declarações sobre o assunto, por isso combinei comigo mesma que esta crónica não seria sobre ele.
Para quê? Já falou o Presidente da República, já falou o Ministro da Presidência, entre outras altas figuras deste nosso “Estado Português” e já todos disseram de tudo. Até apareceu num canal qualquer Paulo Gonzo a falar sobre Eusébio e ouvi que já há poemas. Só faltou falar o Representante da República para os Açores. Eusébio esteve cá. Pedro Catarino podia querer falar, sabe-se lá…
A minha homenagem a Eusébio será igual à de um senhor que tive ocasião de ler num forum das redes sociais: nos próximos dias, não oiço nem vejo canais nacionais. Não preciso que me digam como ele era, o que fez, de onde veio. Eu sei. Acompanhei a vida dele, o suficiente para saber isso tudo e a minha única pena é que não tenha vivido mais um bocadinho, afinal ainda era novo. Tinha 71 anos.
Eusébio era mais novo que Cavaco Silva. Porém, parece que essa coisa da idade não tem nada a ver com morrer. Uma pessoa vai pela vida e de repente: já está. Também não quero que esta crónica pareça mórbida, nada disso, mas os dias frios, o atordoamento das políticas nacionais, aqueles anúncios que vão fazendo a conta-gotas de que vão cortar pensões e vão sortear faturas e vão, mais dia, menos dia deixar-nos a todos “em pele e osso” atormentam-me…
Indo eu atormentada com tudo isto e mais não sei quem, nem sei quantos, eis senão quando dou de caras com a notícia, no final do ano de 2013, de que Pedro Catarino, representante de Cavaco Silva, nos Açores tinha mandado o Orçamento da Região Autónoma dos Açores ao Tribunal Constitucional para ser fiscalizado preventivamente.
Qual polícia da República portuguesa, o Senhor Representante quer que os açorianos não se “portem mal”, que se comportem e sejam sacrificados como os continentais, sendo assim solidários, como deve ser.
A quente (e mesmo agora a frio) considero que o Senhor Representante da República portuguesa esqueceu-se (o que é lamentável) que as pessoas que vivem aqui, nestas 9 ilhas dos Açores, têm um Governo e um Parlamento próprio e que os seus órgãos foram eleitos em (imagine-se lá) eleições tão legítimas e democráticas como as que elegeram, por exemplo, Cavaco Silva.
O mesmo, porém não se pode dizer do Senhor Representante da República. Não foi eleito. Foi escolhido. Por quem? Por Cavaco Silva. Portanto, para mim (penso que para toda a gente) é claro. No episódio do Orçamento, o Senhor Representante da República cumpriu uma ordem de Belém, como já havia cumprido com a sua mudez em relação a assuntos tão sérios como a Lei de Finanças Regionais ou o diferencial fiscal.
Atitudes deste tipo provam a minha ideia de sempre: não precisamos de um Representante da República para coisa nenhuma. Nem deste, nem de outro qualquer. Somos uma Região Autónoma e não um qualquer condado, controlado por uma espécie de “vice-rei” ou “polícia”, cuja fatiota tresanda a centralismo.
Pelo que vi na imagem televisiva da sua mensagem de Ano Novo, o Senhor Embaixador concorda comigo. Prateleiras de livros e mais livros serviam de pano de fundo à sua figura, sem qualquer referência aos Açores. A bandeira que fosse. Nada. Só livros a metro.
Aquela mensagem podia ser lida aqui, na China ou na Rússia. Nada o identificava como sendo quem é ou representando o que acha que representa.
Açoriano ou açoriana que tenha apanhado a mensagem a meio, quase de certeza, não soube identificar o senhor e se apanhou na parte da “Lotaria”, é bem provável que tenha pensado que era alguém dos "Jogos da Santa Casa" ou coisa parecida…
Assim não vale a pena. De resto viva o Eusébio, o Benfica e (claro está) os Açores.


Mariana Matos


Serenamente, AO 7 de Janeiro de 2013

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