No final do congresso do CDS,
Passos e Portas encontraram-se numa estação de serviço, na Mealhada. Passos
comeu leitão. Já Portas (mais avisado e diligente) comeu panados.
Portas é mais esperto que Passos.
Por certo já sabe que agora com a venda de património aos chineses, também as
ementas portuguesas passarão a incluir especialidades como “leitão com
amêndoas” ou “agridoce”; “crepes de pastel de nata” ou “chop suey de cozido à
portuguesa”.
Por outro lado, Portas, sempre
tão viajado e informado, também já deve saber que, entre o final de 2014 e o
início de 2015, partirão de Pequim turistas em naves espaciais que pagarão a
módica quantia de 70 mil euros e viajarão durante uma hora, a mais de 60
quilómetros de altitude, o que lhes permitirá experimentar a ausência de
gravidade.
Só o desejo imenso de sentir essa
“ausência de gravidade” pode explicar que Portas tenha anunciado no seu
congresso ao próprio Primeiro-Ministro do Governo, de que é Vice-Primeiro
Ministro, as suas metas para 2015: Reforma da Segurança Social, desagravamento
do IRS, aposta na demografia e racionalização da administração pública.
Lá nada. O que Paulo Portas quer
(mas não disse ainda) é experimentar naves espaciais, já que não pôde
experimentar submarinos e, lentamente, ir mudando a indumentária dos seus
colegas de Governo.
Passarão das gravatas aos
kimonos; dos garfos aos pauzinhos; da cerveja ao chá de jasmim e se for mesmo
preciso (em nome da pátria portuguesa), nos seus discursos substituirão versos
de Fernando Pessoa ou Camões, por versos de Wang Jian.
Depois de alterar o significado
de irrevogável e de assim gozar com a cara de toda a gente, Paulo Portas pode
tudo, a favor do interesse nacional, que é, claro está (só) dele.
Aposto que o “karaté” vai passar
a ser também disciplina obrigatória nas escolas portuguesas, indo mesmo
substituir os exames dos professores, tornando-se requisito fundamental para
dar aulas do Minho ao Algarve.
Nada disto será assim tão
estapafúrdio. Basta que nos lembremos que depois da EDP e da REN, também a
Caixa Seguros foi vendida aos chineses; que enquanto essa venda era anunciada o
Governo da República, sem qualquer tipo de escrúpulo, dizia também que estava
aprovado o alargamento da Contribuição Extraordinária de Solidariedade às
pensões acima de mil euros, alargando assim a perda de rendimento na classe
média.
Foi a EDP, foi a REN, foi a Caixa
Seguros e é (também) o Cinema Londres, que vai ser transformado numa loja de
produtos chineses.
Enquanto Portugal se vai deixando “achinesar” e desgastar,
entretém-se o Povo com discussões absurdas e conversas parvas, até da
Presidente da Assembleia da República sobre os custos da ida de Eusébio para o
Panteão; enquanto isso outros discutem se Sophia de MB Andresen deve ir antes,
ou depois do “King”.
Cá para mim, se for para continuar a vender o que é nosso
aos chineses, mais vale deixar ficar Eusébio e Sophia onde estão. E, já agora, no
entretanto, ir pensando em vender o Palácio de Belém aos chineses, com tudo
incluído.
O provérbio chinês, a este propósito, é muito claro: “Se
quiseres abater uma árvore usando a metade do tempo, passa o dobro do tempo
amolando o machado”.
E como isto vai, ao ritmo que vai seguindo, não tarda estão
os portugueses de olhos em bico, já sem sequer conseguir dizer: “já basta!” em
português.
Serenamente, AO 14 de Janeiro 2014