Se Cavaco Silva fosse o devoto que quis parecer ser na passada semana, evocando primeiro Nossa Senhora de Fátima, a propósito do fim da sétima avaliação da troika, e depois São Jorge, referindo-se à vitória do bem sobre o mal, teria aproveitado ontem, 2ª feira do Espírito Santo, para evocar o “Criator Spiritus”.
Mas isso é claro, só podia acontecer se Cavaco não ignorasse que ontem foi “Dia dos Açores” (como bem lembrou Carlos César), 2ª feira do Espírito Santo, e, por causa disso não convocasse o Conselho de Estado para exatamente a mesma data.
Cavaco Silva passou por cima da data, sem sequer ter dirigido umas palavras, circunstanciais que fossem, aos Açores e aos Açorianos. É uma pena lastimável. Mas é o que temos.
O Presidente da República já nos provou que só sabe de nós quando lhe interessa. Para vir cá falar do sorriso das vacas; para interromper as férias e avisar um país inteiro dos perigos que podia encerrar o nosso Estatuto Político Administrativo…
Depois recolhe-se à sua religiosidade oportunista, que faz enraivecer o mais sereno cidadão…e corar de vergonha, qualquer um de nós, pelo patético da cena e pelo que ela demonstra (mesmo) de um certo aproveitamento da fé dos portugueses.
De resto, como se provou ontem: silêncio absoluto, que nem foi quebrado pela ausência anunciada e explicada do Presidente do Governo dos Açores na reunião do Conselho de Estado.
Para as sopas do Divino e para os croquetes do resto dos dias, tem cá o Representante da República. Dá (por enquanto) bastante.
Podia ter falado da partilha que o Espírito Santo simboliza, podia até ter ido às raízes monárquicas da cultura portuguesa e falar da Rainha Santa Isabel ou de Afonso Henriques, podia ter usado os conselhos da sua Maria e podia, entre uns e outros reis ou santos, dirigir umas palavras, por mais curtas que fossem, a este povo português das ilhas, que, entre outras coisas, já deu à República a que preside, dois Presidentes: Manuel de Arriaga e Teófilo Braga.
Mas não. Preferiu manter-se reservado aos sagrados do país de norte a sul; recolhido à fé da rendição de Paulo Portas; agarrado à coligação, rezando a todos os santos para que o fio que a sustenta não se rompa.
Vítor Gaspar que não soma nem segue em Portugal é admirado pelos alemães; o desemprego aumenta, as falências multiplicam-se; a fome desarma famílias inteiras, não temos nenhuma credibilidade para sermos um país a sério.
Nossa Senhora de Fátima substituiu de uma assentada só os esforçados portugueses, cuja penúria, passou de repente a uma espécie de recompensa divina. Foi isso que Cavaco Silva quis dizer, mesmo que depois tenha disfarçado. Temos um Presidente da República que anda pelo país a dar uma de “Jacinta”.
Esperemos pois todos com a paciência possível pela próxima aparição de Cavaco.
Virá, entre nuvens, fumos e anjos, avisar um mundo novo, quiçá em aramaico.
É tudo uma enorme palhaçada.
Serenamente, AO hoje
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