Gostei de ouvir Berta Cabral, no lusco-fusco das luzes de um congresso laranja, assumir que anda há muitos anos na política. Afinal essa mera constatação - que a oposição açoriana faz acerca da história da Presidente do PSD/Açores e alguns dos seus correligionários - foi ali, na noite de Sábado, assumida sem qualquer sacrifício pela candidata, enquanto prometia que os Açores estavam primeiro e que não era uma “negociadora fácil”.
Fiquei curiosa sobre os “negócios” de Berta Cabral com Passos Coelho. Quem negoceia com quem? A Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada com o Primeiro-Ministro? A Presidente dos sociais-democratas açorianos com o Presidente dos sociais-democratas de Portugal? Ou a Presidente do PSD/Açores com o Primeiro – Ministro?
Penso que esta afirmação (de não ser “negociadora fácil”), como a outra de agradecer em nome de todos os açorianos (?) foram apenas inabilidades, consequentes do nervoso miudinho provocado por toda a situação: o mediatismo da cena, a altura do púlpito e, claro está, o olhar atento e compenetrado do seu Presidente, enquanto Berta Cabral lhe dirigia palavras, “olhos nos olhos”, volteando o papel de que se investiu naquela noite…
A poucos meses das eleições a Presidente do PSD/Açores foi ao congresso nacional pedir ajuda ao “papá”, esperando trazer de lá (e trouxe) a promessa de que o partido a nível nacional tudo fará para que ganhem aqui as eleições. Fez juras de amor, primeiro aos Açores e aos açorianos, como é conveniente, e não apresentou uma única proposta.
Não falou da RTP/Açores. Não falou da Base das Lajes. Não falou da Reforma do Mapa Autárquico. Não falou de Autonomia. Não falou da lei de Finanças Regionais. Não apresentou uma única reivindicação. Mas disse que, tal como Passos Coelho, para quem primeiro está Portugal e depois o PSD, para si, também os Açores estão primeiro e depois o PSD.
Neste tema, como no caso das passagens aéreas, Berta Cabral separou os Açores de Portugal, admitindo que Passos Coelho possa pensar primeiro no país e depois na Região, mesmo sem dizê-lo explicitamente.
Essa – a falta de nitidez no discurso – é aliás a maior crítica que se pode fazer à intervenção de Berta Cabral: falou de negócios, mas não disse quais eram ou quem os fazia com quem, falou do facto de ser Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, mas não teve a coragem de dizer que era contra a reforma autárquica, falou de emigração (com laivos de “barco e o sonho” ou “xailes negros”) mas não teve coragem de dizer que é contra o incentivo, feito a nível nacional, para que os portugueses emigrem; falou de passagens áreas, mas não teve a coragem de exigir para os Açores uma alteração às obrigações de serviço público. Falou, falou, falou.
Resumindo e concluindo, soubemos agora – em Março de 2012 – que os Açores estão primeiro e depois o PSD. Viu-se.
Daqui por diante começarão os Açores a ser invadidos por essa espécie de gente em campanha. Dirão banalidades, falarão das ilhas como se estivessem mais habituados a elas do que a simples alusão à chuva do boletim meteorológico ou aos tremores de terra que os sobressaltam…
Seja como for, vindo quem vier, recomenda-se ao PSD açoriano que compre, para oferecer aos “descobridores”, o livro “Ilha à Vista”, que conta a história dos Açores de forma muito simples e é um projecto da educadora de infância Rita Bonança, integrado no plano de actividades do jardim-de-infância de São Vicente Ferreira. A obra aborda o conhecimento dos Açores, a localização de cada uma das ilhas, apresenta aspectos relacionados com a vulcanologia, com o conhecimento da divisão do arquipélago dos Açores em grupos (oriental, ocidental e central), as cores associadas a cada uma das ilhas e a aprendizagem do hino e da bandeira dos Açores.
É que para se amar os Açores não basta dizê-lo do mais alto dos púlpitos, é preciso senti-los e tê-los no lugar certo, sem perder de vista uma única ilha, por mais metafórica que ela seja ou possa tornar-se…
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