terça-feira, fevereiro 14, 2012

11 Mil e tal dias

Nem mesmo ao mais distraído dos cidadãos terá passado despercebida a “encenação” de Berta Cabral sobre a tolerância de ponto no Carnaval. Primeiro achou que devia haver “entendimento”. Depois de anunciada a tolerância pelo Presidente do Governo, então achou que tinha “obrigado” o Governo dos Açores.
11 Mil e tal dias no exercício de funções políticas nos Açores (começadas em 1983 e ainda a decorrer em 2012) exigiam de uma das (poucas) mulheres sociais-democratas na política (a bancada parlamentar do PSD na ALRAA tem 2 mulheres em 18 deputados) maior coragem e espírito de iniciativa.
Ora esta atitude que primeiro foi de “entendimento” e depois de “provocação” só encontra explicação no facto da Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada estar apanhada na teia da solidariedade partidária nacional e, por isso, ser incapaz de contrariar as orientações políticas do Governo de Passos Coelho, até nas coisas mais inofensivas como a tolerância do Carnaval.
11 Mil e tal dias no exercício de funções políticas nos Açores – conhecendo como diz conhecer os açorianos – deviam evitar que tivéssemos que ouvir da sua boca palavras como “a Região precisa de menos políticos a tempo inteiro”.
Afinal nos mais de vinte anos em que foi e tem sido administradora de empresas públicas, secretária regional, deputada e presidente de Câmara, Berta Cabral devia fazer, antes de mais nada, um exercício de auto-análise.
Para além disso o compromisso assumido a 6 de Fevereiro do corrente ano de formar um Governo mais pequeno, não só é mais uma imitação do continente, como também soa a demagogia.
A questão do tamanho do Governo não nos parece assim fundamental, mas a história criada à imagem e semelhança do que se fez lá fora, arrepia-nos. Basta lembrar que nessa sede de redução de tamanho, Passos Coelho pôs fim ao Ministério da Cultura, transformando-o em Secretaria de Estado, reduzindo com essa atitude a importância deste sector fundamental para o desenvolvimento de qualquer país ou Região.
Muita coisa mudou nos Açores desde que o PS é governo. O Mar foi integrado nos programas do Governo e passou a fazer parte da Secretaria Regional do Ambiente; as Pescas passaram a ter um papel de destaque, com a criação da Subsecretaria Regional e a Ciência e Tecnologia são hoje duas áreas importantíssimas do nosso desenvolvimento.
Existe hoje todo um novo vocabulário que vai muito além dos chavões do PSD/Açores, como sejam o último da denominada “Região Económica”. Falamos actualmente de Jovens Empreendedores, de Jovens Criadores, de Qualificação Profissional, de Novas Tecnologias, de Centros Interpretativos e Ambientais, de Património Móvel e Imóvel. Temos paisagens protegidas, Parques Naturais de ilha, Estações de Rastreio de Satélites…
Neste mês de Fevereiro, a oito meses das eleições regionais, aguardamos com expectativa que Berta Cabral explique essa sua ideia copiada do nacional de formar um Governo mais pequeno?
Fará desaparecer a Cultura? Reanimará a Subsecretaria Regional para a Comunicação Social? Não sabemos.
Certo é que 11 Mil e tal dias de vida política a “tempo inteiro”, que não condenamos, exigem mais de um político: homem ou mulher. Tanto faz.
Em 11 Mil e tal dias de vida política Berta Cabral devia ter aprendido mais (qualquer coisa) com os bons exemplos dos homens e das mulheres de bem com que se foi cruzando…
Mais não fosse porque essa é a função que se exige de um político: fazer o bem sem olhar a quem, no firme propósito de que (por aqui) a vitória dos Açores é a nossa maior e melhor herança.



(Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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