terça-feira, dezembro 27, 2011

Tomar partido



Começo o último “Serenamente” de 2011 com a sensação (dolorosa) de deixar coisas por dizer a “alguéns” que o tempo me fez perder dos passos por razões variadíssimas.
Ou porque me morreram ou porque se calaram para não mais voltar a falar.
Ensinou-me quem me ficou de um momento para o outro desaparecida num dia assinalado no meu calendário deste ano da graça de 2011 que não se pode viver sem tomar partido, que não é possível estar bem com “deus e com o diabo” e que “quando o dedo aponta para a lua, o imbecil aponta para o dedo”.
Ensinou-me (assim) coisas importantes, que me levam a escrever esta coluna (semanalmente) usando por herança um subtítulo, o “Serenamente” com acordo familiar…E é com orgulho que o escrevo (quase) todas as semanas.
Ora então aqui vai mais este com os votos de um bom ano para todos e o conselho que a noite de natal em que escrevo este texto (um dia inesquecível de ausências) me dá.
Os tempos que se avizinham, dobrada a folha do calendário do dia 31 de Dezembro, pedem que sejamos civilizados, implicando isto entre outras coisas, que tenhamos a capacidade de tentar criar consensos.
Essa tentativa (que não é tentação) não pode, porém, significar que nos acantonemos sem opinião ou sem nos posicionarmos claramente, tomando partido.
O tempo que aí vem pede que lutemos todos os dias para acabar com o avesso da “Gente” que vibra nos versos de Ana Hatherly no poema “Essa Gente” (1929). Pede também que tenhamos a capacidade de perceber que os que se acomodam no imediatismo dos dias devem ser postos na rua!
Não servem aos Açores aqueles e aquelas que se dão bem “com deus e com o diabo”; os que navegam em mares sem ondas, que ficam parados, ancorados aos lugares comuns de que a dupla existência os enforma.
[“Uma nêspera/estava na cama/deitada/muito calada/a ver o que acontecia/Chegou a velha/ e disse/olha uma nêspera/e zás comeu-a. É o que acontece às nêsperas que ficam deitadas/ caladas/a esperar/o que acontece.” Rifão Quotidiano, Mário-Henrique Leiria”]As críticas e o confronto de ideias permitem-nos avançar e evoluir. Mas só vale a pena essa atitude com os que nos olham “olhos nos olhos”, sem capa, sem disfarce e sobretudo com a coragem dos homens e das mulheres de bem.
Espero assim que a saúde encha as casas dos meus leitores com dias saudáveis e felizes, que a inimizade vivida a paredes meias com a inveja dê lugar aos homens e mulheres frontais que Raul Brandão disse ter visto por aqui, que Vitorino Nemésio elogiou e que Natália Correia imortalizou no nosso hino.
Ainda é tempo de tomar partido. Não se pode viver sem tomar partido: uma ideia, um ideal, um sonho (qualquer que seja).
“Mais vale um ponto de vista do que um ponto na vista”. O último ponto objectiva a cegueira dos homens, que sendo propositada, nos mata a todos, mais um bocadinho…
E para cegos já bastam os que, querendo muito, não conseguem (mesmo assim) ver…

Sem comentários: