Pedro Passos Coelho passou, recentemente, um atestado formal de pobreza a Portugal. “Só vamos sair desta situação empobrecendo” foi a declaração do Primeiro-Ministro, referindo-se à austeridade em curso no país, que será substancialmente agravada no próximo ano.
Podemos fazer uma analogia. Imaginemos que o país é uma família comum portuguesa, que tem compromissos com a banca, que tem de honrar sob pena de perder a sua habitação. Se esta família empobrecer subitamente, é crível que possa manter os seus pagamentos? Claro que não. Ninguém sai de uma crise agravando os factores que estiveram na base desta crise.
É, por isso, uma falácia argumentar que Portugal sairá da crise em que se encontra tornando o país mais pobre. Esta explicação só se compreende como uma tentativa, quase desesperada, de explicar a razão pela qual se retirou, nos últimos meses, qualquer hipótese de retoma económica e de bem-estar social.
Vários economistas prevêem que a recessão, em 2012, fique entre os três e os cinco por cento, valores que demonstram uma economia no ponto mais baixo das últimas décadas, que terá como resultado o afastamento de convergência com a União Europeia. Assim sendo, como será possível “sair desta situação”, como alega o Primeiro-Ministro? Não será tão cedo, até porque, quando a troika deixar Portugal, a economia estará de rastos.
Passos Coelho até pode demonstrar determinação nas medidas que está a tomar, mas, como ele próprio admitiu, está a passar um atestado de pobreza aos portugueses a um ritmo diário.
Não se contesta a necessidade da adopção de medidas duras de equilíbrio das finanças nacionais. Aliás, estão são mesmo fundamentais para salvar o país, mas não se pode ficar por aqui. O pecado capital de Passos Coelho é esse mesmo. Resolver o problema orçamental à custa da economia real.
Já se percebeu que não há qualquer estratégia de crescimento económico para Portugal, em parte devido a um ministro desta pasta que ainda não sabe onde está, mas também à decisão política de “empobrecer” o país a cada dia que passa.
O atestado de pobreza que Pedro Passos Coelho nos passou a todos é, assim, uma equação sem solução: ficaremos mais ricos sendo mais pobres.
O Primeiro-Ministro, que esteve recentemente no Brasil, deveria ter aprendido com o exemplo deste país. Só ficou mais rico quando apostou na economia e na criação de riqueza. Esta é a solução óbvia para a equação.