sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Brincadeira de Rapazes

Passamos os dias a ouvir acusações encapotadas e insinuações de todo o tipo sobre o actual Primeiro-ministro de Portugal. As supostas informações são veiculadas a conta-gotas, todas as semanas, quase cirurgicamente, como se o propósito fosse, mais do informar, tentar comprometer. Ainda assim, com todo o bombardeamento de informação a que estamos sujeitos e com a gravidade do que está em causa, acho importante, sobretudo, apurarmos os factos comprovados.
Em primeiro lugar convém esclarecer que o processo Face Oculta nada tem a ver com o líder do Governo. Este facto foi comprovado pelos juízes do processo, pelo Procurador-geral da Republica e pelos restantes intervenientes no processo.


O nome de José Sócrates só é mencionado pelo facto de ter conversado algumas vezes com Armando Vara (seu amigo), que estava sendo alvo de escutas. E porque a lei assim o obriga, para se poder validar as escutas das conversas entre ambos, ou seja, para que o diálogo tido possa ser sequer analisado e anexado ao processo e porque estava envolvido um Primeiro-ministro, as gravações tiveram de ser enviadas pelo Procurador-geral da República para o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, (órgão máximo da autoridade judiciária). A resposta de ambas as entidades foi clara e esclarecedora: “após ouvidas todas as gravações enviadas e outras que as sustentam, foi verificado não existir qualquer tipo indício, que o Primeiro-Ministro possa ter cometido um crime”.


Assim sendo, a única base que tenho para poder supor que existe alguma tentativa de manipulação ou tentativa de calar a comunicação social por acção do Partido Socialista é proveniente de notícias da comunicação social, a maior parte destas já desmentidas. Mas para mim, mais grave do que a agenda de um ou outro órgão de comunicação social possa ter, são os novos pressupostos do actual regime onde vivemos. Que afirmam que uma pessoa que tente impedir pela via judicial que informação privada sua seja publicada está a atentar contra a liberdade de imprensa. Que afirmam que violar o segredo de justiça ou deturpar leis para aceder a informação privada para publicar num jornal é aceitável. E que aceitem que uma pessoa que seja inocentada pelos órgãos competentes da magistratura, de acusações feitas por jornais seja declarada perante todos culpada.


Desconcertante é também a falta de coerência e de noção das acusações feitas. Se tudo isto que é dito nos jornais é verdade, ou seja, da existência de uma conspiração generalizada contra o Estado de Direito, porque é que ninguém da oposição política ou dos jornais ainda não pediu a demissão e acusação dos cúmplices, Procurador-geral República, Presidente do Supremo e do já condenado Primeiro-ministro de Portugal?


A sensação com que ficamos é no mínimo de confusão, de que andam todos a brincar à justiça enquanto o país sofre com crise económica e com a degradação das suas instituições.

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