quinta-feira, janeiro 07, 2010

Low-cost: de onde e como?


Ouvi com espanto as declarações do Presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada sobre a implementação de voos low-cost para os Açores. Mário Fortuna apresenta o conceito low-cost como a nova descoberta para o futuro do turismo dos Açores. Mas tendo algum trabalho em esmiuçar as declarações deste responsável, bem como de outros, em declarações mais recentes, verifico que na verdade nos apresentam uma mão cheia de nada.

Em primeiro lugar não consigo perceber, em todos os escritos sobre o assunto, a proveniência das ditas companhias de low-cost. Apenas sei que se destinam a São Miguel e que, supostamente, irão proporcionar tarifas muito baixas aos passageiros. Ora se estamos a falar de voos com proveniência fora de Portugal, a iniciativa de Mário Fortuna parece-me muito estranha, pois já há uma companhia de low-cost a voar para os Açores, a Air Berlin, sendo possível a qualquer outra companhia aérea, de low-cost ou não, voar para a região sem restrição absolutamente nenhuma. Se mais companhias não voam para a região é porque certamente não vêem viabilidade no mercado açoriano.

Em segundo lugar, assumindo que a proveniência dos voos low-cost é Portugal continental e que o espaço aéreo para São Miguel não tem restrições, gostaria de perceber quais as tarifas que serão praticadas de e para a região. Será possível a um residente em São Miguel, que necessita de viajar para Lisboa, impreterivelmente a uma determinada data, pagar menos por um bilhete de ida e volta do que 240 euros? Será possível a um residente em São Miguel, pagar em média por tarifa promocional, actualmente disponibilizadas cerca de 10% de cada voo LIS/PDL, menos do que 145 euros? Será possível a um turista pagar em média, por tarifa promocional menos do que 190 euros?

Infelizmente o exemplo da liberalização do espaço aéreo da Madeira responde negativamente às duas primeiras questões que coloco. Apesar do subsídio a cada passageiro residente, de 60 euros, a tarifa sem restrições naquela região continua a ser em média superior, proporcionalmente à praticada nos Açores. Tendo em conta também, que o número de tarifas promocionais, naquele arquipélago, com valor inferior a 145 euros, são algumas dezenas por mês, verificamos que na prática um residente paga em média mais na Madeira proporcionalmente por uma tarifa promocional, do que paga nos Açores. A prova do que digo, é que por três vezes a Assembleia da Madeira já propôs aumentar a comparticipação do bilhete ao residente, chegando mesmo a propor uma comparticipação a 50% sem limite máximo de preço de bilhete.
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De facto, só para o turismo, acredito verdadeiramente, que este modelo liberalizado funcionaria, pois estamos a falar de um passageiro tipo que quereria viajar para os Açores uma ou duas vezes por ano e que facilmente conseguira aceder a uma tarifa promocional convidativa na ordem dos 100 euros.

Acredito sim que, com algumas modificações e aperfeiçoamentos no actual modelo de obrigações de serviço público, é possível obter tarifas promocionais mais baixas para todos os passageiros, sem prejudicar os residentes de toda a Região.

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