quarta-feira, dezembro 02, 2009

Os amigos



Há lugares onde mal entramos somos logo amigos. Pé na porta, depois da soleira (gosto desta palavra) e, quem nos recebe, mesmo que não esteja à nossa espera, cumprimenta-nos com um “bom dia, amigo!”.
Há ainda aquela célebre expressão micaelense que soletra um “ê amigo” que é tantas vezes carinhoso, como outras enfadado ou mesmo já farto de nós, mas que se confunde, não raras vezes, entre um embaraço e um sorriso.
Seja, como for, entre o amigo do bom dia e o “ê amigo” do tipo, “já estás cegando”, há poucas diferenças e as que existem são agradáveis.
Hoje decidi escrever sobre os amigos. Não sei se tal se deve ao facto de ser Dezembro e do Natal estar quase aí e me comover mais com isso, ano após ano… ou se não tem mesmo nada a ver com isso…
Seja como for, em tempos li um livro pequenino que se chamava “Retrato de um amigo enquanto falo”. Interessante a situação antagónica de ser escrito o livro e falado o retrato. A autora Eduarda Dionísio. O livro, em final de folhas, provou que se falava do amigo, enquanto se escrevia sobre o salazarismo, a revolução e a pós-revolução.
Aqui há dias retomei um escritor que já não lia há muito tempo. Durante alguma temporada mesmo desisti de o ler. Irritava-me o modo como se referia ás suas personagens femininas: A. Isto; B. Aquilo. C. Outra coisa. Mas, por circunstâncias felizes (há circunstâncias mais felizes que coincidências) voltei a lê-lo e descobri, por exemplo, isto:
Pedro Paixão ofereceu na internet, porque se esgotou nas livrarias, um dos seus livros, em PDF. Era leitura obrigatória para os alunos do ensino secundário.
Descobri também que tem vindo a abandonar as consoantes e a optar por uma escrita mais crua, mais magoada, quero dizer, como se as palavras tivessem dentes e fossem, por exemplo, garfos ou rodas…Gostei de o reler.
É dele a frase que retive durante toda a semana, a última que se acabou de Novembro: “ (…) Os amigos sobrevivem aos fins do mundo. Este é o único critério. A amizade é tão bonita como o amor e tem a obrigação de durar mais tempo. (…)” [Reflexão sobre, Fevereiro de 2008].
Não é que tenhamos chegado ao fim do mundo, nem tanto que Dezembro tenha caído antes do fim do ano, enrolado nas fitas que o Natal vem trazendo, ano atrás de ano…
Leiam-se as fitas como se fossem slides e os meus amigos que lerem estas linhas façam de conta que já estamos em Janeiro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ê Amiga,já estou em Janeiro e espero não estar cegando.
Bjs.
H. Galante