Assim, o desinteresse é óbvio
Não é novidade nenhuma que as pessoas cada vez menos compreendem e apreciam a actividade política. A maioria não consegue perceber o que os políticos fazem, nem porque tomam determinadas atitudes sem sentido absolutamente nenhum. Se bem que acho que o exercício de cidadania no nosso país está muito longe do aceitável em qualquer outro país democrático, considero que a maior responsabilidade pelo descrédito da classe política está na própria classe política.
O exemplo do último plenário da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores foi, para mim, paradigmático. O clima de agressividade entre os diversos partidos, com assento parlamentar esteve ridiculamente exagerado; Em que a oposição procurou desesperadamente por um soundbite, que saísse em um minuto de telejornal, nem que para isso tivesse que recorrer, ao desrespeito pelas regras de funcionamento do plenário, ao insulto directo e pessoal e à mais hipócrita vitimização a que já assisti em dez anos de actividade política.
A certa altura, surgiu o caso “Twitter”. Dois Deputados insurgiram-se, mesmo muito indignados, pelo facto das suas posições durante o plenário terem sido comentadas, por outros Deputados, numa plataforma de comunicação com milhares de seguidores nos Açores. Dizia o líder do grupo parlamentar do PSD, António Marinho, que os Deputados estão “a ser pagos para discutir os assuntos cara a cara, e não para brincar” na internet, chegando ao ponto de afirmar “Dizer que o António Marinho insultou o líder do PS, é algo que se aceita aqui dentro, mas na Internet não admito que use o meu nome”.
Para além de a discussão me parecer profundamente ridícula, quando tivemos assuntos, esses sim, verdadeiramente interessantes para a vida das pessoas, como a questão dos navios ou do desemprego, julgo no mínimo estranho, estar preocupado com a internet quando temos Deputados que faltam a plenários inteiros para ficar a fazer campanha eleitoral autárquica em Angra do Heroísmo, por exemplo. Também acho estranho, que 35 anos depois do 25 de Abril e, na era da internet, ainda exista quem ache que a liberdade de expressão deve estar coarctada às quatro paredes do plenário.
Mas para mim, o pior que vejo na discussão do plenário sobre o “Twitter”é a total ausência de percepção de que esta plataforma tem proporcionado a possibilidade a centenas de jovens e menos jovens de se aproximarem da classe política, compreenderem as discussões e permitirem a nós, agentes políticos, percebermos, em tempo real, os efeitos e consequências das nossas atitudes. Faz-me lembrar a resistência do Parlamento inglês às primeiras transmissões televisivas por distraírem os Deputados do seu trabalho.
O caminho deve ser exactamente o contrário, abrirmo-nos mais e em mais plataformas aos nossos cidadãos. Afinal, é para isso que somos eleitos e que estamos cá.
1 comentário:
Sou totalmente a favor da utilização do twitter na Assembleia Regional no entanto com regras a serem definidas pelo Presidente da Assembleia e que devem ser enquadradas pelo "bom senso" e respeito.
Mais penso que esta discussão na Assembleia mais tarde ou mais cedo aconteceria sendo normal e salutar em virtude de demonstrar que não vivemos á margem do que vai acontecendo pelo Mundo.
O Twitter, á semelhança de outros meios pode dar um preciosa contributo na aproximação das pessoas e ideias, características por demais importantes para as poder-mos ignorar.
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