quarta-feira, junho 10, 2009

Um país? Que importa?

Há algum tempo que não posto um poema por aqui. Hoje é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas. Escolho, entre os muitos poetas de que gosto, um preferido: Eduardo Bettencourt Pinto para assinalar o dia no ardemares.

"Podia ter um país, desses que se apontam
no mapa com fulgente dedo de cristal.
Ou um cão, sabemos, companheiro fidelíssimo
nos melancólicos parques do Outono, sábados à tarde,
quando a vida é um tédio inevitável
e uma boa caminhada faz amortecer
dentro de nós a falta do mar, a raiva aos cobradores
de impostos, ao cabotinismo dos que nos olham de soslaio
porque usamos ainda palavras como «amor» e «integridade.»
Os caninos, é certo, têm a pureza
do que é leve e respirável, e uma nobreza
tão humilde que até os deuses,
na sua redoma de glória passageira,
neles vêem retratada a sua ulterioridade.
Sobretudo os de hoje, pouco castos,
muito mediáticos nos seus fatos políticos
de homens civilizados até às unhas
dos pés.
Os assassinos da poesia
têm camisas rendadas
e um aperto de mão perfumado.
Por isso os países são irrelevantes.
O meu, disseram-me há muitos anos,
era uma traição à História.
Morria comigo e com os meus amigos.
Hoje não me faz falta.
A minha saudade
está rodeada de mar.
É uma paisagem entre eucaliptos,
uma estrela de orvalho
nos dedos da melancolia.
Que importa?
Tenho boas recordações.
A minha infância foi uma casa
nos braços de minha mãe."

Biografia e outras coisas a ler aqui.

3 comentários:

Anónimo disse...

bela escolha.
margarida

A Rafeira disse...

Olha ele outra vez aqui! :O

Há coisas fantásticas, não há?

Os meus comentários é que continuam desaparecidos.

Anónimo disse...

se tu és "rafeira" como é que queres participar neste Blog? procura outro ao teu nível!!
lindo, o Poema!