sexta-feira, junho 19, 2009

QUE SE LIXE



São várias as análises sobre os resultados das últimas eleições para o Parlamento Europeu e, obviamente, sobre a dolorosa abstenção.
Na confusão entre analistas políticos e políticos analistas, muitos deles duvidosos da sua própria opinião, baralham-se os dados e distribuem-se doutos pareceres à plebe, uns mais ou menos de acordo com as tendências outros mais próximos das conveniências e outros ainda bem piores, porque animados pela falsa ideia de que a renúncia ao voto é obra do imprevisto e da distância que nos separa de Bruxelas.
Fechando os olhos a esta cruel realidade, como fez o grupo parlamentar social-democrata, nada melhor do que resolver o problema da abstenção de uma penada, lançando o ónus a um único partido, no caso concreto ao PS.
Se é verdade que o comodismo e o desinteresse por uma qualquer eleição podem levar o eleitor a escolher o sofá em vez da urna, também não será de todo descabido objectar parte do descalabro pelas medidas impopulares dos governos, pela postura engomada das oposições ou pelos safados e estapafúrdios argumentos de alguns deputados.
O PSD/A prefere ver o seu eleitorado resumido a meia dúzia de votos e esquecer a sua responsabilidade histórica neste processo em vez de assumir conscientemente que está em causa, de facto, um longo comportamento, de poderes de várias cores e de aspirantes a tal, de seriedade duvidosa e de desrespeito pela democracia, coisa que, felizmente, nada tem a ver com o PS/A. É neste perigoso caminho para o definhamento de um sistema que importa ter presente o envolvimento de certas figuras, outrora referências na democracia portuguesa, na conquista da fortuna fácil, rápida e, ao que parece, lícita perante a Constituição da República. É também neste processo vertiginoso de descredibilidade da política que o deputados do PSD/A se esquivam de analisar a crise internacional, o consequente aumento do desemprego e a associada desmobilização dos eleitores, mas se o fizessem a culpa, diriam eles, seria coisa do PS. Não convém, ainda, ao grupo parlamentar social-democrata considerar o comportamento dos partidos, de todos os partidos, sobretudo o deles, tantas e tantas vezes fechado de olho no umbigo e alheio às causas públicas.
Mas se o fenómeno da abstenção se constitui como um problema para a denominada classe política não deixa o mesmo de ser também uma questão residente na ausência de cidadania e no facilitismo de quem elege sem olhar à competência e à honorabilidade. De quem elege com base na ausência de representatividade, de quem elege levado pela demagogia e pelo seu interesse pessoal ou de grupo e, sobretudo, de quem elege elevando aos píncaros figuras de mentalidade e de influência paroquianas.
A tudo isto e convenientemente foge o PSD/A, preferindo, de modo leviano, responsabilizar apenas um partido, obviamente o PS, pela abstenção eleitoral. Pode tal fuga não ser estupidez, mas é com certeza mais um descarado embuste que deprecia os políticos e muito contribui para aumentar a desconfiança do eleitorado, pois exemplos desta natureza e demagogias deste calibre constituem meio caminho andado para que o eleitor pense e diga ”que se lixe”, tranquilamente sentado no seu sofá.

2 comentários:

R.Mateus disse...

Amén!

Anónimo disse...

Bom texto a pegar bem no assunto.