terça-feira, junho 30, 2009

O cúmulo

Nos tempos que correm e a aproximarem-se os dias para as eleições legislativas e autárquicas vão ouvir-se todos os argumentos. Uns mais fracos que outros; alguns mais contundentes e expressivos; outros mais vistos e desgastados. Cavaco Silva pediu, quando anunciou a data das eleições legislativas, serenidade e elevação e que fossem discutidos os problemas dos portugueses. No fundo, qualquer pessoa de bom senso, espera que assim seja. O Presidente da República, à cautela, também alimenta essa vontade. É natural.
Porém, os dias que correm não estão, com efeito, para alguns a ser vividos de forma muito serena. Primeiro, foi o afã de vitória, como se tivessem agarrado ao pulso um balãozinho, que os faz (quase sempre fez) flutuar além tempos, pessoas, modos e circunstâncias, esquecendo-se quer das responsabilidades que têm, quer do exemplo que deviam dar. Estão a flutuar, de tal maneira, acima da média do razoável, que, quando damos por eles, já lá vão, esquecidos das responsabilidades que têm, também, na dignificação do debate.
Ora, no fim-de-semana que passou presentearam-nos com mais uma expressão fenomenal. Se no último havia a expressão “é a política, estúpido”, neste fim-de-semana deram mostras da sua serenidade e elevação, quando, pela voz da líder do PSD/A se ouviu, alto e bom som, muito ao estilo de “suspenda-se a democracia por seis meses” de Manuela Ferreira Leite, que seria uma “estranha expressão de democracia” se os faialenses voltassem a escolher o PS para presidir aos destinos daquela autarquia. “Estranha expressão de democracia”?! Ao que chegou o PSD…É o cúmulo.
Tal episódio lembrou-me outros de há quatro anos atrás, quando a então só Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada baseou o seu discurso na promessa de casas a construir e lugares de estacionamento, debaixo do chão e à tona, uma central de camionagem, que ia aparecer afundada no Campo de São Francisco; para além de teleféricos e outras esféricas promessas. Agora já não é bem assim e até já abre os telejornais prometendo coisas para quando “tiver outras responsabilidades”
Lamentavelmente, ou talvez nem tanto, a esta candidatura, que sendo dupla, faz vez de tripla, aplica-se o provérbio chinês que diz que: “quem fica na ponta dos pés tem pouca firmeza”. Costumo acrescentar que as bailarinas são uma excepção. Desta vez direi que não, que não são. Porque há certo tipo de bailarinas, no seu sentido figurativo, que é como quem diz metafórico, comparativo ou, nalguns casos, personificado, que rodopiam, rodopiam, rodopiam, sem nunca sair do lugar. Estão na vida, como sempre estiveram, em pontas, mostrando pouca firmeza e doses excessivas de auto-contemplação, lembrando “Uma coisa em forma de assim” e daí um texto desse livro de Alexandre O´Neill que se chama “Os convencidos da vida” e que diz: “há-os afinal por toda a parte, em todos (e por todos os meios). Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. (…)”. É a minha passagem preferida no livro. Está na página 27. “Uma Coisa em Forma de Assim” foi reeditado pela Assírio & Alvim, em 2004. Reúne textos escritos pelo próprio ao longo das décadas de 60, 70 e 80 e publicados no Diário de Lisboa, Diário Popular, a Capital, Flama, A Luta e Jornal de Letras. Boa leitura para férias…

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