quinta-feira, maio 28, 2009

"À Janela do Mundo"

Afinal nem tudo corre mal...

Continuamos em profunda “grande recessão” internacional e as perspectivas de sairmos deste “buraco” não são animadoras. No passado dia 26 a OCDE divulgou dados que revelam a mais rápida contracção de sempre das maiores economias do mundo, no primeiro trimestre deste ano, cerca de -2,1%. No mesmo dia, o Governador do Banco de Portugal, Vitor Constâncio afirmou: que “apesar de já existir um abrandamento da crise, não foi feito ainda a reforma do sistema bancário internacional que nos permitirá ter estabilidade no sistema financeiro”, o que poderá comprometer a saída da crise antes de 2010.

No meio deste clima de depressão colectiva, em que cada estatística que surge é sempre pior que a outra, foi publicada finalmente uma boa notícia para Portugal. Segundo dados publicados pelo IMD (Institute for Management Development) no World Competiveness Yearbook 2009, o nosso país é o mais competitivo do sul da Europa, estando inclusive à frente neste ranking, da Espanha e da Itália. Portugal sobe 3 posições, a par com a Alemanha e a Suécia, sendo dos países da União Europeia que mais subiu face ao ano passado. Mas, para além de termos, finalmente, uma boa notícia, o interessante é percebermos a razão pela qual ela surge. Os factores que nos destacam face aos outros países são a competitividade em termos de preços, educação, legislação económica e social e infra-estruturas tecnológicas. Estes dados permitem-nos fazer uma pequena análise da economia portuguesa e desmistificar alguns pensamentos dominantes.

Por um lado, é sabido que a nossa competitividade devido aos preços, advém da nossa fraca produtividade e dos baixos salários praticados pelas empresas. Ou seja, esta (má) vantagem existe apenas devido ao nosso atraso, em termos de desenvolvimento económico, que tenderá a desaparecer à medida que a nossa economia crescer. Por outro lado, as reformas levadas a cabo pelo Governo e o esforço das empresas em modernizar-se, nos últimos 4 anos, estão finalmente a produzir resultados. Por muito que custe ao pensamento dominante, o nosso segundo melhor índice de competitividade, face a todo o sul da Europa é a qualidade da educação. Os resultados do Plano Tecnológico, do Simplex, da reforma de alguma legislação económica e do Código de Trabalho, são apontados como bons exemplos de boas práticas governamentais a seguir pelos restantes parceiros europeus de forma a serem mais competitivos.

Apesar da economia portuguesa ainda ter deficits estruturais, sobretudo ao nível de diversificação, modernização e capacidade empreendedora, que são exponenciados, em muito, pelas contingências da crise internacional, a conclusão que podemos tirar, no cenário actual, é que relativamente aos nossos parceiros comunitários estamos no bom caminho, para quando existirem condições, para a retoma económica, podermos sair rapidamente da situação, em que nos encontramos.

5 comentários:

Tiago R. disse...

53% de insucesso escolar no ensino secundário nos Açores são os resultados da aposta na educação???

Paulo Pereira disse...

"o nosso país é o mais competitivo do sul da Europa" - Em termos orçamentais estes países foram designados por PIGS pelo reputado Financial Times.

" a nossa competitividade devido aos preços, advém da nossa fraca produtividade" - Bem, não percebi.

Sobre a educação será sempre conveniente analisar os estudos PISA.

Cumprimentos

Francisco Vale César disse...

Caro Paulo Pereira, como deve compreender, fiz apenas uma análise generalista dos resultados deste estudo. Todos nós sabemos que a situação do nosso país está longe de ser satisfatória em diversas áreas. Apenas quis relevar nesta altura que nem tudo está tão mau como parece.
A citação que fez sobre a questão dos preços está incompleta. Falo da questão dos salários baixos praticados pelas empresas. Mas aprofundando um pouco mais a minha análise, o que acho é que por um lado, há uma subremuneração do trabalho em Portugal. Por outro lado,a incapacidade que as empresas têm em promover a produtividade dos trabalhadores faz com que a única forma de serem competitivas seja através da diminuição do custo laboral.

Trilobite disse...

"....o que acho é que por um lado, há uma subremuneração do trabalho em Portugal. Por outro lado,a incapacidade que as empresas têm em promover a produtividade dos trabalhadores faz com que a única forma de serem competitivas seja através da diminuição do custo laboral."
Não percebi, gostava que me explicasse.
Para as empresas serem competitivas, têm de pagar menos aos trabalhadores?! Não correm o risco de ficarem sem trabalhadores para laborar? Já sei o que me vai dizer..os trabalhadores são despedidos ou despedem-se e as empresas contratam mão de obra não especializada a receber o ordenado mínimo. Depois as empresas são penalizadas por não terem o produto de qualidade.
Desculpe, mas não estou a perceber. Gostaria que me explicasse, sff.

Francisco Vale César disse...

o que digo é exactamente o contrário... A produtividade tem vários factores, sendo um destes o custo por trabalhador. O segredo para melhorar a produtividade não é baixar o custo por trabalhador, mas sim, melhorar o resultado do seu trabalho. estamos a falar de um rácio, podemos trabalhar com o denominador ou com o numerador depende da ideologia de cada um...