A DEMAGOGIA FÁCIL SOBRE AS TARIFAS AÉREAS
Os anos de 2008 e 2009 têm sido um autêntico pesadelo para as companhias aéreas no mundo.
A IATA anunciou que este ano seria aquele com “worst revenue environment in 50 years”, com um prejuízo consolidado de 2,5 mil milhões de euros. Pela primeira vez, desde 1991, o tráfego de passageiros e carga decrescerá (em alguns segmentos a queda poderá ser superior a 20%). Um número recorde de companhias aéreas faliu ou entrou em processos de fusão. A TAP, que em 2009 transportou 9 milhões de passageiros, teve um resultado líquido negativo de 280 milhões, tendo de imediato anunciado um corte de mais de 2400 voos até Junho. Aliás, penso que o mais provável será uma forte injecção de capitais públicos e a alienação de aeronaves para poder salvar a TAP.
Por cá, a SATA não teve também um ano favorável. Todavia, apesar de ter transportado 1,5 milhões de passageiros (6 vezes menos que a TAP), teve um resultado líquido negativo de 2,8 milhões de euros (cerca de 100 vezes menos que a TAP).
Não obstante este contexto, que afinal só é bom para a empresa açoriana porque todo o sector em que se move está mal, e que entra pela cabeça de qualquer pessoa, tudo se exige com a maior facilidade à SATA, a qual é alvo de críticas por parte de responsáveis políticos só admissíveis desconhecimento ou por má fé.
Por exemplo: acusam a SATA de ser altamente financiada por dinheiros públicos que representam a sua sobrevivência. Não é correcto pois o financiamento público é responsável apenas por 3,35% da sua facturação global de 180 milhões de euros. Estes números significam que a sobrevivência da companhia depende quase em exclusivo da boa gestão da companhia e não do financiamento estatal. E nessa margem de gestão estão, naturalmente, para além do pessoal e dos combustíveis, o custo dos bilhetes. Referem, esses críticos crónicos, de forma demagógica, que os tarifários praticados de e para o continente, aos residentes e a turistas, são muito altos. Terão essas pessoas noção que, se quiserem viajar amanhã para Lisboa, vão pagar provavelmente metade do que paga um Madeirense para chegar ao mesmo destino pela EASYJET, apesar de estarem bem mais próximos do Continente? Saberão que a SATA é a empresa cujo preço médio cobrado por km é o quarto mais baixo da Europa? Saberão que a EASYJET cobra 700 euros por uma ida e volta na quadra natalícia a um turista de Lisboa para o Funchal?
Exigir é fácil e dá votos: baixas de preços, maior frequência de voos, pernoitas de aviões aqui e acolá, outras rotas, tolerâncias de carga. A verdade, porém, é esta: a crise que tem atingido este ano a maior parte das companhias aéreas no mundo chegará aos Açores e à SATA se esta abandonar a forma corajosa e sustentada como tem compatibilizado os interesses de serviço público de transporte com a viabilidade e o equilíbrio empresariais. Coragem e sentido de responsabilidade é o que não se pode perder.
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