segunda-feira, março 02, 2009

“À Janela do mundo”

“medo do Medo”
Já faz parte do nosso dia-a-dia ouvirmos os especialistas falarem das razões e consequências da maior crise económica global dos últimos 80 anos. As análises, cada vez mais reportadas ao que é óbvio e às repetições incessantes de lugares comuns, são, por isso mesmo, inevitavelmente, as mais correctas. Pecam, embora, por um pequeno grande defeito: a atracção pelo pânico catastrofista pelo recurso crescente ao mediatismo de indicadores intercalares desconexos.
Ontem um dos maiores jornais, de tiragem nacional, fazia notícia de capa a afirmar que a crise económica tinha fechado 609 Cafés em todo o país. Esta notícia apocalíptica revela bem a ligeireza alarmista e sem rigor absolutamente nenhum de análise em que nos vão mergulhando.
Veja-se, até, o inusitado da dita notícia: convém esclarecer que os números nem estão correctos, pois fecharam, sim, 366 restaurantes e snack bares e 243 cafés, bares e pastelarias. Ou seja, se quisermos ser rigorosos, fecharam “apenas” 243 cafés no país. Mas o que é importante: não há nenhum indicador que nos diga que estas pequenas empresas faliram apenas por causa da crise; aliás, pensa-se que em mais de um terço dos casos são outras as razões imediatas.
Uma das coisas que aprendemos com este tipo de crise económica, é que ela é diferente de todas as outras. Ela afecta sobretudo quem está desempregado e aumenta o rendimento disponível de quem está empregado, devido à diminuição dos preços dos bens e serviços. Uma das regras mais básicas em economia é de que os bens “normais” são aqueles que têm o seu consumo menos afectado pela variação do rendimento disponível das famílias. Uma família não irá comprar 3 vezes mais batatas pelo facto de ver o seu rendimento aumentado três vezes, nem tomará 3 vezes menos café pelo facto de ganhar três vezes menos.
Ao caso apresentado por esse jornal podemos contrapor outros dados que dizem exactamente o contrário. As vendas líquidas da Macdonalds subiram 11,4% em Portugal, para 240 milhões de euros, subindo pelo quarto ano consecutivo acima da média europeia. O que podemos observar pela leitura mais atenta destes dados é que “comer fora”, enquanto bem necessário e sem alternativa se mantém, o que varia é o “onde se come fora”. Se acrescentarmos a isso, o facto das famílias, neste ano, por princípio, aumentarem o seu rendimento disponível, talvez percebamos que o problema da restauração está mais na competitividade e imaginação do produto do que na crise económica.
Não quero com isto dizer, nem seria honesto da minha parte, que o sector em causa não sofrerá por causa da crise, até porque parte da restauração é um “bem de luxo”, este sim bem sujeito ao clima de conjuntura económico. Mas acho que antes de entrarmos em pânico, porque saíram más notícias, devamos perceber verdadeiramente as causas dessas mesmas notícias.

1 comentário:

Fiat Lux disse...

Proposta à Blogosfera:
Dia "F" para o crime ambiental da Fajã do Calhau

http://fiatluxcarpediem.blogspot.com/2009/03/proposta-blogosfera-dia-f-para-o-crime.html