quinta-feira, junho 19, 2008

Croniqueta XLV ou o Fífia é um pinga amor (ou não é!) ou talvez seja...



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O Fífia é um pinga amor. Uma espécie de Romeu dos novos tempos, menos melodramático, mas tão dengoso como um Don Juan ou outra espécie dessas que a literatura universal retrata da cabeça aos pés. Werther de Goethe ou Eurico de Alexandre Herculano não lhe chegam aos calcanhares e, mesmo que chegassem, ele logo se diria superior. E toda a gente ia acreditar (porque era o Fífia quem dizia). Tem lábia, mas não tem mais nada.
Em andamento lembra um lagarto, esquivando-se entre as pedras da calçada, veloz, pata atrás de pata, rápido para não perder a vez ou não ser encontrado. O Fífia gostava de se perder nas ruas, sumir-se na multidão, esquivando-se aos recados da mãe e às repreensões das tias. Mas, nunca consegue. E muitas vezes, quando pensa que é desta, acontece-lhe como aos lagartos, deixa atrás o rabo a mexer, que é como quem diz, fica como os gatos, escondido, mas com o rabo de fora. E mexendo-se, leva logo. As tias não lhe perdoam e a mãe não o defende.
O Fífia é um pinga amor? Sim. Talvez. Fracalhote, é certo, mas esforçado. Esmera-se. Fala de Dante, de Camões, Fernando Pessoa. Diz que é escritor, músico e que também pinta quadros, além da manta. Quase ninguém acredita. E acham que ele é tudo menos pinga amor. É que, para a maior parte das pessoas, os pinga amor, até têm graça. Mas o Fífia? O Fífia não tem graça nenhuma.
E depois ele chora, choraminga muito, fingindo-se triste e só, abandonado como um periquito enjaulado, a quem cortaram as asas, por motivos de força maior. Não há quem consiga aguentar. Agora diz que este Verão vai procurar uma noiva. Quer casar rapidamente. A idade não o perdoa e ele também diz que não perdoa a idade. E di-lo tão sério, que muitas vezes pensamos, que vai brigar com a idade. Será que pensa que a idade é uma jovem ou uma mulher mais velha? Desconheço. Talvez vá (ou vaia, como ele diz) aceitar casar com a idade ou outra coisa qualquer. Matar a sua idade? Dele tudo se espera. Os mais mirabolantes raciocínios, que às vezes parecem ter saído da cabeça de uma criança de menos de seis anos, são normais no Fífia, para quem A Divina Comédia, não é, nada mais, nada menos, senão um livro de anedotas sobre deuses. E todos os dias, faça chuva ou faça sol, lá está ele, sentado na esplanada da sua rua, contando às pobres marlenes, às desgraçadas marias e às tontas beatrizes, mais uma anedota sobre Deuses ou histórias sobre a sua triste vida, que nunca começa na mesma data nem nunca acaba com a mesma noiva. Em meia hora, desmancha todos os seus pressupostos noivados, enquanto vão entrando e saindo do café, todas as flores mais belas do mundo. Diz ele.
Nós acreditamos, se quisermos ou, por via das dúvidas, se nos importarmos com isso...

2 comentários:

Anónimo disse...

E todas as flores que vão entrando e saindo do café, por já conhecerem o Fífia, fogem. Fogem, porque antes flor sózinha do que mal acompanhada... :)

Anónimo disse...

hahahhahah! Lindo! :)