«Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos (...)»
(excerto de Ao desconcerto do mundo, Camões)
O homem que entrou pelo vestíbulo, depois de já estarem todos é falso. Aos seus pés, diz ter, rente à biqueira dos sapatos, o mundo inteiro.
Não vale. Além de ter chegado atrasado; é, notoriamente, falsa a moeda que traz para troca. Mas o tipo insiste, no insistir dos sabichões. Não convence. Nem mesmo quando chora. É tempo de secar as raquíticas falsidades. Calar os gritinhos esfomeados deste ser, cuja vida, bate a toque de um coração caixa, óculo, agulha, dente de elefante, fumo. Movimentos falsos e desconcertados. Quase mudo. Rouco. Abaixo os ares de rato; os motivos reles; as falsas pinturas inventando paredes e muros governados por reis e rainhas, em cujos tornozelos, habitam asas de mosca, como nos bruxedos. Abaixo a apatia da figura, perante as ondas do mar que, mais que ele, suam para poder comer.
Abaixo os gritinhos histéricos de um homem que, à beira pés, diz trazer o mundo: Espanha, Inglaterra, Suécia, Noruega, mares, lugares, gentes e paisagens. Mentira. Falsidade. Diz isto sem consequência, como se a esta coisa de ser homem, de dar a cara por um manifesto; de ser parte de um Todo, pelo qual se labuta, se sangra e se enxuga, bastasse apenas ter na mão uma caneta e, por ocasião, ter duas ou três lembranças.
Abaixo os mentecaptos deste século. Os roedores a pilhas dos espíritos livres. Os incapacitados e inabilitados fantasmas dos desmemoriados engravatados.
Abaixo os disseurs de quadras que se trocam por lengalengas repetitivas; abaixo os que se atacam nos sapatos como se a vida fosse um nó e um laço. Abaixo os mascarados ignorantes; as lesmas que se encontram nas valetas como se isto fosse tudo uma bandeja, onde se servem sempre os maus da fita.
O homem que entrou vinha atrasado. Chegou depois de horas já vividas. Faltaram-lhe as bases, quase tudo e, mesmo assim pinchou, fez-se distraído.
É tempo de por fim a esta história.
1 comentário:
Abaixo!
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