quarta-feira, janeiro 03, 2007

Croniqueta XLVI ou Fífia está com cara de passa; espumado...



O Fífia está espumando. Desde o dia 31, que ficou como as garrafas de champanhe. Cara de passa; gosto amargo, o Fífia, agora, perdido parece um pássaro de asas caídas. Triste. Rude. Enfeitiçado pelo líquido espumante, que lhe gaseificou as vistas, como se fosse um buraco de passeio, mal acabado, depois das picaretas frustradas e das pressas obreiras. E as mãos? Duas conchas de lapinha sem menino.
Na noite de Natal, depois da missa do Galo, de onde o Fífia veio triste, por não ter visto ave nenhuma, estavam, à sua espera, debaixo da árvore, três pares de cuecas, uma escova de cabelo, um bordado da Ivéti com dois corações e as portas da cidade (porque foi o lugar onde se conheceram em pleno Carnaval) e o CD da Floribela mais o microfone e a saia da cantora Lusa, que lhe mandaram as primas, que moram em Almada. No dia de Natal, foi um tal cantar as canções da série da Televisão, enquanto as tias e a própria Ivéti assistiam ao brilhar do seu menino, como se ele fosse uma estrela, uma flor, uma delicada melodia; tão delicada, que até parecia perder o ritmo...
A 31, armado de sacos e sacos de estrelinhas, porque o nosso Fífia é contra os foguetes e as bombas e, mesmo que não fosse, a mãe e as tias não o deixavam brincar com isso; lá foi nosso Fífia para as portas da Cidade, outra vez, dado que para ele, aquele é um lugar de culto e de amor, acender estrelinhas toda a noite, beber champanhe e desejar um Bom ano, aos berros, a todos quantos iam passando por aquela festa. No fim, depois de tudo, cansado acabou em braços e veio ao colo das tias para casa. Como um Menino Jesus, foi deitado nas palhinhas, enquanto uma Floribela, em caixa de música, o embalou ao som do "Miau Miau". Lógico, que à noite sonhou com gatos de saias rodadas e cores garridas. Um sonho só.
Ontem, tentando, restabelecer-se da esfrega da passagem de ano foi ao novo restaurante, que veio da América, o Mcdonnalds; levou a máquina para tirar um retrato e enviar para as primas, como oferta de natal. Afinal, não é todos os dias, que o Fífia se pode encontrar à porta de tão moderno espaço, que veio trazer mais modernidade à sua cidade. Grande. Cidade grande.
Em breve, vestido de toupeira, qual mergulhador dos filmes americanos, há-de mandar também uma fotografia aos pais da Ivéti; que não lhe enviaram nada do Brasil. Pode ser que eles lhe ofereçam, então, a bandeira do Brasil para ele fazer uma camisa para o seu casamento; ou então um CD do Netinho; para ele se ir treinando para os bailes do Carnaval. Não há nada como ser estrela. E o nosso Fífia, que é Fífia e não "Fíffia" já saliva a pensar nos bailes de Carnaval, em que ele vestido da estrela Floribela, com longos caracois castanhos e lentes de contacto, dançará colado à sua Ivéti - Frederico. Serão um show! A Ivéti de barbas amarelas como alcatifa por lavar e o Fífia de saia rodada com renda a ver-se e collants rosa choque. Porém, mesmo com todos estes sonhos, nosso Fífia continua com a cara passada; o olhar pingado e os braços descaídos como as asas de um pardal envergonhado.
Não anda nada bem. E, dizem, que é um enjoo. Pode que passe ou não.
Para alegrá-lo, as tias e a mãe têm ligado o microfone e deixado que o seu menino de oiro, qual "Eusebiozinho" lhes repita todos os êxitos da cantora lusa. A cada refrão de um Não tenho nada mas tenho tenho tudo. Sou rico em sonhos e pobre pobre em oiro, as tias choram e o Fífia que é Fífia e não Fíffia ri à gargalhada.
Afinal para que é que ele quer oiro se em breve vai poder ser toupeira?

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