segunda-feira, outubro 30, 2006

Se há copos o que é que falta?

Os loucos passeiam nos fatos engravatados de Domingo das missas marcadas pelo ritmo dos calendários. Nos postos de informação turística, inglesas e alemãs abraçam-se a mapas da cidade e falam em línguas estranhas das suas expectivas. (Não as entendo). Sou assaltada por um misto de confusão entre os dialectos tribais e as variações que daí advêm, como sinais…mas mais nada. (Não vale a pena empolar muito isto)
Nesta cidade, fica-se com a sensação de que viramos páginas, desde o momento, em que saímos de casa até ao momento em que encontramos uma outra Amália a cantar na esplanada do mesmo café de há muitos anos. (Está igual a si mesma). No rio não se ouve o barulho dos carros das vedetas. Ali, só o sol faz poses e fitas, mas em silêncio. Há crianças (semi) livres correndo em bicicletas de plástico, compradas para deslizar ao fim-de-semana, em corredores estreitos de cimento assinalados por um lettering de bike americano. Aqui o vento é transtornado e as pessoas, paradas em sintomático pause, lembram as asas das borboletas caídas e mortas, depois do esguicho do Dum-Dum atirado ao ar da minha criancice. Não há palavras para descrever a solidão dos passos; nem me parece que a avenida deste fim de tarde, quando todos regressam, certos, nos seus compassos predefinidos, como autómatos enjaulados nas cadeiras dos automóveis, seja realmente morada. As casas amontoam-se em (jogos de plasticina) e, nas varandas, no lugar das flores e da roupa estendida, nascem, como cogumelos, cadeiras de plástico e mesas protegidas por guarda-sóis “Modelo”. É a força do marketing, dizem os velhotes dos bancos de madeira verde desta estória em que cabe, por razões de lógica, um fio de lume, trazido, "em braços", pelas luzes dos anúncios publicitários da cidade contada. Neste ponto, entra um homem sozinho divagando nos espaços da memória, como o passado que, aos berros, diz assim:
Se há copos, o que é que falta?
- E, prontos,
exclama o coloquial.
Porque, afinal diz-se falta e logo aparece um suplente.
Mesmo que seja de retorno.
Pronto(s).

Sem comentários: