segunda-feira, setembro 18, 2006

Salada


Talvez mais de maçã fossem os movimentos, quedados em procura, em hastes de verdura ou ares, asas, águas e águias nas varandas, trepando pelos ferros, em gritos tresloucados de lados A e B. Talvez. Talvez na rotação dos dedos coubessem mais palavras e os dedais das costureiras sentadas nas escadas de pedra e sem corrimão fossem anúncios de papéis para cumprir nos Teatros de plasticina. Talvez. Quem sabe se chegaste ao porto, se de dentro das ondas vieram pessoas com barbatanas e óculos de tirar e por como adereços arrumados nos armários de papelão, encostados nas paredes, presos. Talvez. Um, dois ou três malucos debaixo dos tapetes, pendurados nas grades da casa de Verão e o som do assobio, o som da bola de futebol. Talvez. Laços, fitas, uns cabelos pretos despenteados; garfos, colheres e as sopas todas feitas com terra e pedras, comidas a fingir, nos pratos invisíveis. Eis que sou. Eis que estou talvez
- Uma loucura de levantar abraços e pernas e mãos de debaixo do chão com pancadas de dedos no teclado, que dita os movimentos. Talvez. Ou não. Talvez (mais se calhar) a vida faz-se à sorte e na cadeira do diabo há prisões de papel e ganchos de içar bonecos de borracha; casas, casinhas, casotas; do criativo ao dito nulo da hermenêutica banal com que a metáfora se tece de hiper-sensibilidade. Comovo-me na contrapartida do verbo que, aqui e agora, me pede que lhe perdoe o tom. Não há janelas na casa da fantasia, nem consta que as minhocas tenham tecido teias; papel das aranhas, cuido. Na espera, entre o salto do artista e a quebra da queda, há dois ou três sapateiros à espera de lhe dar a graxa. Como um vício de esponja em riste. No meio de tudo, de certeza, talvez mais de maçã pudesse ser o assobio da caneta farta de escrever banalidades. Assim como assim as palavras cheiram e, pouco ou nada, se sentam. Digo: sentem. Irrequietas, as ditas.
Talvez mais de maçã
E ficava feita a salada.

2 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Mariana, fizeste uma excelente salada, isto é, um texto muito rico, não em vitaminas, mas sim em em diversos atributos que fazem dele uma prosa com elevada e nutrida qualidade literária.
Parabéns por mais um excelente post.
Um beijo.

João Gil disse...

Cuidado com os ventos!!!!