quarta-feira, setembro 27, 2006

Croniqueta XLI ou o Fífia não tem papel e as galinhas não têm dentes ou o plural de um cante a palo seco


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Solilóquio. Trópico. Asfalto, o Fífia de lado, abalado pela temperatura do rasgo lembra batatas de saco, empacotadas a prazo, como as estrelas dos poemas que, escritos, lembram missais de improviso. Ala. Forte, o estandarte das ideias ou os ideais mudados, trocados, dados como uma rima de norte, em cujo primeiro verso sagrado acautela a máxima: Todos diferentes, todos iguais.
O Fífia é plural(mente) banal. Uma baliza sem rede; uma bola vermelha sem ar, cujas funções agravadas podem tornar-se, num breve espaço de tempo, em nariz de colar na cara pintada de "artista". O Fífia não tem papel. Tem pergaminho enrolado com fita encarnada, gosta de gamas de morango e de usar, por estilo, o cabelo por detrás das orelhas preso às cartilagens capilares escassas com que, ocasionalmente, sustenta as suas afirmações. Na desgraça do traço oratório, o Fífia defende-se pelo plural; quando na verdade dita entre dentes: é só um. Porém, a unidade postiça lembra aos mais atentos, uma implantação sem raiz. A coroa, sempre a coroa…Sem poderes de coroação nem lógica de hereditariedade, o nosso Fífia de membranas interdigitais assemelha-se ao mais feio dos patos, cujo grasnar desengonçado assume para os espectadores, lógicas de fita e inacção.
Não justifica o momento, os passos leves do ser nem cuida que, os balões dos tóxicos gases exalados por metáforas de pacotilha insistidas e repetidas possam dotar o Fífia de um corpo de arma e voz. Todo ele é dor, inchaço, custo. Tudo nele é pó, massa e aparelho. Não verga, é certo, mas contorce-se como um fio de plasticina. Porém, longe das personagens de infância como o plasticman, o Fífia enrolado em chumbo, adquire um brilhar quase incandescente, como o sol, que, raras vezes brilha na metereologia da nação; pintado numa tela a 3 D para as ilhas dos Açores. Enfeitado e raro.
A mensalidade do Tempo Fífiador eleva a responsabilidade da maiúscula criatura à qual falta o juízo deixado no espaço livre na boca para, uma vez que seja, no lugar do juízo, possa nascer ou crescer, um sorriso Colgate e real. Sem ela, essa realidade sorridente, o Fífia não poderá, jamais, valer um furo no calendário da Humanidade; ficando, por isso, resumido ao buraco negro da sua existência, aonde o som do bafo da banalidade é tão grande que não deixa ouvir e perceber o "canto dos cisnes", que, segundo ele, lhe sai dos poros, por inspiração. Essa, já sabemos, como (não) corre, acabando mastigada na dentadura de um castor, cujo dique debaixo do chão é presente para as toupeiras. Na lógica Fífiana: as galinhas não têm dentes. Têm bicos. Bicos adocicados e fofos como as nuvens a três dimensões nos ecrãs televisivos. Ficam-lhe bem. Ara senão.
O Fífia é um cante a palo seco como o poema de João Cabral de Melo Neto...

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