quarta-feira, julho 26, 2006

Croniqueta XXXVII ou o Fífia é um cidadão em fuga sempre à procura da sua barretada




Redondo como um grão de bico, caído numa garrafa verde embrulhada em espuma do mar, qual mensagem perdida no oceano, o Fífia rola pela rua abaixo; batendo contra as paredes do estômago das casas vazias. Isolado, triste, metido no calor da bruma que cobre a ilha, o Fífia parece um alfinete de dama aberto na fralda de um pequeno embirrento que, a correr no campo de São Francisco, grita por um gelado da Olá. Concentrado, ou pelo menos parecendo, o Fífia tenta pela enésima vez, ler o livro que comprou para as férias; um livro doirado de capa dura com inscrições na lombada, que, diz ele, “ensina as regras do bem-estar na praia, no café, na sala de espera do consultório do médico dos olhos e dos ouvidos, na sala de estar da vizinha ou no Táxi”.
O Fífia é como uma figura de um álbum antigo de fotografias, aonde os vestidos de Domingo das senhoras sussurram para nós zumbidos de excelência e deferência.
Este Verão, quase de Agosto, o Fífia vai ser atleta; já comprou as Nike e a fita para aguentar a pouca cabeleira, que lhe cresce na nuca; comprou os óculos escuros espelhados à estrela de cinema e pediu à vizinha brasileira para lhe emprestar a bicicleta de rodas. De rodas, sim, porque homem que é homem não arrisca , pelo menos, na figura proverbial do nosso Fífia, em quem o provérbio: " quem ri por último, ri melhor" deu lugar a um provérbio fífante: " quem chora primeiro, mama melhor".Mas, adiante, nas compras leva para a mãe umas Puma, para que ela possa correr a seu lado, enquanto ele, leve como uma pluma, ou veloz como um pardal, pedalar na avenida, como se fosse um estrangeiro, ouvindo o seu mp3, aonde, aos gritos, um cantor popular dos que ele ouviu no Coliseu, lhe grita entusiasmo, força e coragem!
O Fífia é um sortudo; seja quem for; venha de onde vier: cantor, jogador, político ou qualquer cidadão anónimo fala sempre sobre ele. Daí que, para o bem ou para o mal, o Fífia sinta cada palavra como se fosse para si; amuando, rindo ou chorando, consoante as circunstâncias. Diga-se que o Fífia é um "coleccionador de barretes"; que os tem de várias cores e feitios, que os arruma em prateleiras, bordando-lhes nas costuras as iniciais dos "costureiros"...Também, por isso, continua a acreditar que no dia em que todos os cantores do festival subiram ao palco do Coliseu foi para ele que cantaram e por ele que vieram. Afinal não é todos os dias que se pode estar perto do maior Fífia da redondeza; essa figura de proa que, às vezes parece adormecido, outras demasiado esperto, mas que, no toque da fuga, no entre e sai das pessoas dos corredores da fama, é, nada mais, nada menos, que o grande Fífia feliz. O que não passa despercebido, o que, às vezes, mesmo parecendo adormecido, se levanta num suspiro e qual "Gato das Botas", discursa para as pessoas com ar de atleta e figura de banda desenhada, inchado das bases, curto nas falas e, claro, pontapeando a gramática, a gosto. Afinal, já não houve o 25 de Abril?, - diz, olhando para os poucos que lhe criticam os modos ou resmungando com o pai que, sempre que encontra uma brecha na redoma, que lhe puseram as tias, as vizinhas e a mãe, lhe dá puxões nas orelhas; alertando-o para o ridículo, mas o Fífia não quer saber. O que quer é um Barrete. Leva-o. Com pom-pom. Sem pom-pom.
De manhã, logo pela fresca, é vê-lo rua abaixo, todo vestido de amarelo, da cabeça aos pés, passando pelos calções amarelos travados nas coxas, com um cordão verde para amarrar na cintura, que a Ivéti lhe ofereceu para levar à Piscina.
O Fífia é um selo. Um saco de praia de amarrar a meio. Uma toalha de franjas; um cabelo caído para cima das orelhas, tentando disfarçar o efeito spock, que elas transportam; o Fífia é uma asa de frango queimada no fundo do tacho onde, entre restos de batata frita e óleo do cozinhado, nada um Fífia enorme e feliz por ser tal e qual aquilo que é: o rei do barrete. Ainda me hão-de erguer um monumento nas portas da cidade, diz, enquanto se perde em teorias do género de que há-de haver um natal em que se lembrem de me embrulhar em papel vermelho como, se eu fosse,(um) presente.Porém, quando vamos ver; quando lhe tentamos tocar: lá está! O Fífia é como os bonecos de plasticina. Vira, revira e...
....foge.
O Fífia é um cidadão em fuga...sempre à procura da sua barretada.

2 comentários:

Charlie Babbitt disse...

Espectacular... simplesmente espectacular!!... :)

Caiê disse...

Nasceu demitido. ;)