O Fífia é um guarda-sol de praia; daqueles sempre iguais: azuis, verdes, vermelhos e amarelos, enfiados na areia, à medida dos nossos tamanhos. Primeiro, quase rente ao chão, depois alteados conforme as idades; para mais tarde morrerem, cheios de mofo, no fundo das nossas arrecadações.
O Fífia é uma arca de arrumar roupa que não serve, mas que é de guardar. É um alfinete de dama ou um alfinete de fralda; uma carta de espadas, uma dama prosaica sentada na curva do baralho. O Fífia é um tremer de chegar; um chorar de desgosto, uma lágrima escorrendo bochecha abaixo na cara de um adulto para morrer no queixo, mesmo rente ao pescoço.
O Fífia não se desfaz porque insiste no passo; o Fífia não se retrai, porque não tem vergonha; o Fífia lê livros ao quilo e aos amigos e conhecidos diz ser o melhor cliente da livraria; o Fífia vai aos museus olhar para as vigas e, quando sai, trazendo debaixo do braço, o catálogo da exposição, usa-o na frente do carro, à vista, para todos verem como é Cultural. No mar, o Fífia é uma onda sem crista, das que não servem sequer para furarmos, porque carregadas de areia, nos fazem engolir os grãos. O Fífia é uma máquina de cortar a relva daquelas antigas, cujas lâminas enroladas por baixo se voltam num girar aflitivo de dor. O Fífia é uma estrada deserta pintada a meio com traços ininterruptos a permitir a ultrapassagem. O Fífia é um ultrapassado. Um sujeito que anda meio de lado, que a falar parece um sapo e que, ao que consta, anda com ar de encostado.
O Fífia é uma ode; um drama mal “arregaçado” dos que metem, por mistura, sacos de dó e piedade; o Fífia é um bailarino de pé chato e calças curtas, que no revirar do passo, deixa aparecer as meias turcas brancas e as bolas de futebol na canela fina.
O Fífia é um caixote de pintos. Furado. Um galo abandonado, depois de velho. Uma bengala esquecida no bengaleiro; um saco transparente de batatas brancas; um pacote de lenços; uma esfera, uma bata de médico sem gente dentro.
O Fífia não fala, sibila. O Fífia não conta, contabiliza. O Fífia não mostra, demonstra. O Fífia não ri de vontade, sorri. O Fífia não vive, finge. O Fífia não salta, assalta. O Fífia não mastiga, mói. O Fífia é tão Fífia, que até nesta croniqueta que tem o número da idade da Gilda, não foi capaz de dar de si. Pasmado, sorumbático, acanhado, desgraçado, atoleimado, o Fífia soltou um ai doloroso e disse: e o aço?
"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
terça-feira, julho 04, 2006
Croniqueta XXXIII ou o Fífia é um guarda-sol de praia
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1 comentário:
Cá estou, sempre á procura dessa figura mitica!!!
Beijos
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