terça-feira, abril 25, 2006

Os Citas




Desamparados quais libelinhas nas primeiras núpcias de voos altos, estes homens e mulheres, em cujos dentes da frente cintila um reflexo, lembram, em dias de festejos, uma marcha de despedida tocada num tom, acima da medida, como que a desafinar. Aos nossos ouvidos atentos soam a vozes esganiçadas, porque quanto mais altas, piores…
Então, cantam baixo; estendem-se em cumplicidades e assombros; verificando-se, mais tarde, na pauta, que as claves de sol se perderam e nas escalas ninguém se entende; é um atropelo!
Sobem e descem; mandando recadinhos para disfarçar o que é evidente: à primeira quebra de compasso baralham-se todos confundindo Salsa com Repolho e ar doente com dificuldades de respirar.
Discos riscados; raízes entorpecidas por vocábulos de estranhar; fraco manuseamento das espingardas, resultando naquilo a que já todos assistimos: má pontaria, bicos caídos e tristes; alguns em debandada e outros, porque, quiçá mais espertos, sorrindo e assistindo ao funesto acontecimento. Depois dos bicos, há as asas tolhidas; redondas e quadradas; que nalguns se erguem como batatas presas a troncos demasiado frágeis para aguentar o peso da responsabilidade de uma batatada bem dada…A arte.
Situam-se como edições baratas de capa mole e quebrada em cima de prateleiras, cuja sustentabilidade da citação se deixa envolver por faces entre aspas.
- O Senhor está com ar de aspa hoje! Não trocou as aspas? - dizem, entre si, como quem se pontua por caracteres e soluções, cujas marcas de limitação, ultrapassam sempre o estabelecido; ou então, como quem, se julga a si e aos outros pela curva da aspa, que no lugar das asas, se transforma numa espécie de gancho, mas fraquinho.
Cansam as armações Quixotescas; irritam as panças de Sancho com que se passeiam armados em donos e duques de uma cidade ou de uma vila; aborrecem os olhares sibilantes, cofiando os bigodes ou, nelas, afagando os pulsos, subindo e descendo pulseiras, numa correria de montra.
Nisso lembram, ano após ano, na passagem de mais um dia 25 de Abril, que afinal lutar pela liberdade, para eles, em pondo-se as aspas, fica tudo consertado.
E é nisso, só nisso, que vivem concentrados: fazer da Liberdade uma palavra entre aspas…como quem cita.
Chamemos-lhe então os "Citas"; fãs dos Fífias, mas não Fífias, porque se lhes falta o empinar dos modos; as atitudes desertadas; os corre-corre humorísticos num tom de água quente a ferver sobre um pézinho gentil! Os Citas envergam fa(c)tos; destilam textos a que chamam "Reflexões", mas que, no fundo das mangas à boca de sino, não são mais nada do que meros espectadores do passado; figuras de colecção. Aspas.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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