quinta-feira, abril 20, 2006

Croniqueta XXI ou o Fífia é sintomático, sorumbático, amnésico e desviado...



O Fífia não tem parado um momento. Ele é saídas à noite e copos com fartura; ele é corridas na avenida de fita traçada na testa, como se fosse um atleta; ele é livros comprados ao quilo na livraria, o que faz dele o melhor cliente, expoente máximo do ranking dos livros ao peso; ele é conversas, verdades de la palice ditas com sotaque carregado, num tom romântico-francês ao ouvido da primeira que lhe der só um bocadinho de atenção. O Fífia é um desencanto; qualquer coisa meio a meio que fica aquém ou além da expectativa dos comuns mortais; qualquer coisa indefinida como a brisa que calcula a saída para a manhã num dia de Verão e sol a queimar (queimam-se brisas também)…
Não há voz que o segure; nem a da mãe, em cuja casa dorme e come sempre a barafustar com o sal; as peras muito maduras ou os lençóis demasiado dobrados, vincados e amarelos. Ingrato. O Fífia é sintomático; sorumbático; amnésico; desviado. O Fífia soletrado resume-se em cinco letras; ligadas a um fio de lume…nem se lhes dá a faísca. Sentado, no quadrado do seu quarto, pintado de branco nas paredes, tecto vermelho às bolas; sonha-se gasganete, malfeitor de um mundo de homens azuis, onde ele se destaca pela vermelhidão do nariz; quando, cantando modas antigas, parece rogar uma praga!
O Fífia não tem remédio e gaba-se disso; justificando-se com o facto de ter acabado o curso com média alta demais para frequentar Farmácia…De piadas secas e aspecto oblíquo, o nosso Fífia a correr na avenida de fita traçada na testa, óculos roxos pendurados ao pescoço; fato de treino preto e sapatilhas de lona com grandes atacadores parece uma corda de saltar como as que eu tinha quando era pequena; com uma diferença: as minhas brilhavam nos puxadores e rodavam. O Fífia do brilho perdeu a rota e da roda sabe pouco; enche pneus de bicicleta.
O Fífia é um acabar acabado de madrugada; quando de estômago inchado, cheio de Sprite com Vodka, regressa a casa a pé, vindo sabe-se lá de onde, arrastando-se nas sandálias que comprou em saldos no Hiper para estes dias mais acalorados. Gaba-se dos seus dedos dos pés; das unhas à moda francesa e do cabelo, que ralo, reserva a marca da fita.
O Fífia é, por si só, um modelo. Só por si vale muito pouco.

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