sábado, abril 08, 2006

Croniqueta XVIII ou o Fífia é um balde rachado; el rei Junot disfarçado; campeão da ameaça....



O Fífia não está no seu melhor. Agridoce como as pequenas partes de carne de porco, embrulhadas em mel, que comemos em restaurantes chineses, o Fífia deste Sábado parece uma T-Shirt da Feira de Carcavelos a dizer: I love my boss!...Lavada na máquina a temperatura de 40 graus fica, sem ofensa para o ilustre, em tudo semelhante a uma roupinha para a Barbie. Estranho o seu ar ofendido, de beiças caídas, como se lhe tivesse passado pelos lábios, um baton fora de prazo, dos que deixam bocados pendurados nos beiços, que temos que limpar para não serem confundidos com borbulhas da adolescência. Ele nunca os limpou.
Armado aos Teatros, enche-se de bolas de sabão até aos ossos, tornando-se escorregadio como uma mangueira e cheiroso como as colónias da minha infância, que eu usava para perfumar os bonecos. Os Carecas. Um brinquedo que penso estar em desuso, mas que, naquela altura, me entretinha tardes e tardes; de corpo de pano e mãos e braços moldáveis. Podia pô-los de dedo na boca; chucha ou, pura e simplesmente, dizendo-me adeus! Assim fica nosso Fífia quando, parecendo ter engolido uma vassoura e algumas páginas do dicionário; quiçá um Ensaio sobre Catástrofes mundiais, grita.
Nessas alturas, é largar a fugir ou então rir à gargalhada do seu jeitinho para o drama; a sua tez cor de púrpura e os seus olhinhos, quais dois brilhantes, ofuscados pelo sol da salas. Não há paciência. No centro disto, do que ele diz, quando diz, dos seus esgares; das poses paradas; do truque dos dedos agarrados aos papéis, seguindo com os dedinhos a linha, para não perder a deixa; do cabelo arrepiado no centro da nuca, como um campo de milho novo; da testa franzida como um campo de batatas; onde bichos da batata se enrolam numa espécie de amor macrobiótico, tenho a nítida sensação de que dali, em frente a ele, assistirei ao remake foleiro do último acto de uma peça medieval; com cavalos e damas, lavando-se em selhas com espuma.
Para grande parte dos Fífias que aqui tenho escrito; o melhor era se tivessem vivido no tempo das palavras medidas pela força dos Dramas; quiçá não teríamos, por hoje na história, uma espécie de Junot, nascido numa das 9 ilhas dos Açores; ou uma Hermengarda; fatídica personagem de um romance; gritando da loucura do isolamento.
As falas do Fífia fazem dos Açores um território isolado. A acreditar-se que assim era; teríamos uma reserva de Fífias. Não o queremos.
Porém, já é tempo de fazê-los arrumar as botas de garimpeiros; de lhes dizer que “Felizmente há luar”; que o sentimento de Gomes Freire de Andrade, ainda que nos queiram perder no Atlântico Norte, quais calhaus à deriva, presos pelos braços deles, não nos impedirá de traçar a diferença essencial entre o tempo da escrita dos romances deles, piores que os de folhetim, e o tempo da História; que é qualquer coisa diferente das estórias do Fífia. Treinado nos modos, choroso, quanto baste, como arma de defesa a insinuação maldosa (ou malina!); revoltado e desesperado; esquecendo-se que a história da Conspiração de 1817 já foi contada por outros riscos, cuja maior riqueza era o rigor; no tempo em que não havia papel químico; nem consta que postais como ele falassem em público.
“Pretendo representar o mundo”, dir-me-á o Fífia Doctor; “coltoralmente” evoluído; intelectualmente (des) favorecido como se fosse uma lua sem luar.
O Fífia é um bluff. O Fífia é um artista de artes circenses aprendidas em cadernos feitos pelo próprio…
Um desastre, um balde que nunca carregou água; que é de enfeite e que está todo rachado.
Com certeza digo, o Fífia é a maior fífia que conheço.
E assumo.