O Fífia é uma bomba sem detonador, que cai na água e não faz espuma; uma escova sem pêlo, um carro sem acelerador, cuja única função é servir de vigia para as brincadeiras dos garotos. O Fífia é um ladrão do meu tempo descontraído, um esgar que observo, um traço, um manifesto, um cigarro fumado até ao filtro, uma marca rafeira de roupas, que a tia não usa porque é foleiro, mas a vizinha compra porque é mais barato. O Fífia é um ser animado pelas palmas dos outros. Sorri, aplaude e grita ao milímetro, como um reflexo do que os outros fazem. Chora para agradar tão facilmente como canta ou aplaude a pior cena de Teatro. O Fífia é um pano de cena para cima e para baixo, tapando mistérios, ocultando buracos, escondendo armas, às quais não tem acesso, não sabe do calibre, mas aguenta as provas e, se preciso, ainda se assume culpado, mesmo não o sendo. O nosso Fífia tem cara de óculos, cabeça de esferovite e um ar de feijão verde cheio. O nosso Fífia fechado numa caixa e chocalhado não faria barulho para não acordar os vizinhos. Gosta de passar despercebido, diz, mas não passa. Sobretudo, quando anda por aí de laçarote, cabelo no ar e fato amarelo. Diz ele, que está experimentando as fatiotas para o Carnaval de 2006, que vai ter muito mais camiões na avenida e ele próprio vai num. Mas não vai querer uma T-Shirt a dizer Anima. Para si prefere uma que diga: Soul. Assim como assim, se a batalha das Limas é cartaz turístico, quanto mais não vale uma palavra em inglês? Uma palavra que os estrangeiros, todos pingados, da cabeça aos pés, apontem e gritem: Soul! E tenham esperança. O Fífia pensa-se alento das pessoas desesperadas, guia dos infelizes, por isso, todos os domingos, na missa das 18 horas, entoa cânticos da sua autoria, à porta da igreja, para testar a sua voz e aquecer os presentes, que irritados, o mandam calar.
Vai, agora, concorrer para os Jogos florais. Fingir que se chama Anacleto e que tem 14 anos e concorrer com uma rima estúpida a que dá o título de 1º neto. Assim:
O Anacleto
É o primeiro neto
Do Felizberto
E está fofo com tal acontecimento. Parece uma chalupa à deriva no mau tempo no canal, agarrada pelas cordas dos braços; parece uma esferovite em forma de bolacha, quando desanca na mãe, porque esta lhe tenta explicar o que é uma sextilha e ele grita, dizendo que sexta ilha pode muito bem ser Graciosa, mas que não rima com 1º neto. O Fífia é um kalkito; um Epá com gama desfeita no fundo; um guarda-sol de varas partidas; uma bola de futebol vazia, um vendedor de gelados sem os nossos preferidos. O Fífia não tem morada, tem estada; de um lado ao outro da rua, passa por todas as vivendas, aonde cães de pêlo escovado e gancho no cabelo passeiam nos colos das donas, que hoje, estão particularmente, felizes: é dia da mulher. Os maridos vão buscar os filhos, levá-los ao judo e ao futebol, enquanto elas, de rosa na lapela, escutam conferências sobre as suas fraquezas.
Sabendo que a mãe não é dessas coisas, o Fífia já pensou. Vai levar-lhe uma Sopa da Avó. Um dia por ano, ela tem direito a sonhar.Comeremos todos. E ela até vai pensar que a mesa está cheia de netos, sorri pensativo, enquanto dispensa uma rosa, gentilmente oferecida, por um Homem de cesta no braço.
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