segunda-feira, setembro 19, 2005

O Jovem Mágico

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"O jovem mágico das mãos de ouro
que a remar não se cansa muito
e olha muito depressa (como se fosse de moto)
veio hoje ficar a minha casa

Vivia longe já se sabia
tão longe que era absurdo querer determinar
Metade campo metade luz
aí era a sua casa o sítio onde era longe.

Mesmo de olhos fechados (como ele estava)
e de braços cruzados (como parecia dormir)
o jovem mágico das mãos de ouro
que era todo de empréstimo à minha boite

que falou por acaso que nem se chamava assim
(segundo também contou) tinha vivido há muito
ele, que estava ali, era um falsário
um fugido de outro basta ver os meus olhos

nadasabemosdenósanãoserquechegámos
semumaluzaesconder-nosorosto
beloseapavoradosdeestranhoscasacosvestidos
altosdemetermedoàsavesdelongocurso
nemhánoitesassimnãoháencontros
aolongodasenseadas
nãohácorposdeamantesnãoháluzeirosdeastros
sobtantosilênciotãoduradouratreva


enãomefalesnuncaeusousurdoeunãoteoiço
euvounascerfeliznumacidadefutura
euseiatravessarasfronteirasdascoisas
olhaparaasminhasmãosquetepareçoagora?


No entanto surgiu como simples criança
conseguia sorrir sentar-se verter águas
com as mãos na cintura livre natural
ele que era um fantasma um fugido de outro

um que que nem mesmo se chamava assim
o jovem mágico das mãos de ouro
desaparecido nu de todos os sítios da Terra."

Mário Cesariny de Vasconcelos, in «366 poemas que falam de amor»

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