terça-feira, julho 19, 2005

Ainda as Festas do Divino Espírito Santo

Comecei por escrever um comentário ao texto do amigo João Nuno, mas como ficou enorme resolvi fazer um post.
Em tom avisado e nobre ( sim, porque erguida a bandeira incolor do D.E.S. devo dizer que sim, que o texto, está bem manuseado, enfim...bem escrito e, não me surpreende, bem tomado à forma, ou seja formatado)...mas continuemos para também eu, não perder o gosto à letra e, sem ser advogada, mas puxando o gosto à pena que, felizmente, herdei do meu avô materno, quero começar por perguntar ao amigo João Nuno, como eram essas festas do Divino Espírito Santo há duas décadas em Ponta Delgada? Já que afirmas que à Câmara Municipal: "(...) restava a obrigação de ser intérprete de uma vontade comunitária que estava latente na população do concelho desde que, há cerca de duas décadas, haviam cessado as Festas do Divino em Ponta Delgada. (...)"
Conta-me...Como é que eram essas festas do Divino Espírito Santo?
Por outro lado,não entendo a semelhança encontrada entre o "império dos Nobres" na ilha do Faial ( império esse que também se realizava em Ponta Delgada, na freguesia de São Pedro) e as Festas do Divino Espírito Santo da Câmara de Ponta Delgada?
É que se falasses das festas do Divino Espírito Santo da Rua do Passal, da Arquinha, da Rua João do Rêgo de Cima ou da Rua da Alegria, por exemplo, essas sim, realizadas há duas décadas ( ou mais); até podíamos chegar à conclusão que, de facto, são as nossas tradicionais festas do Divino Espírito Santo ( aqui e no Faial), mas, agora, comparar o "império dos Nobres" com as Festas da Câmara? Tem paciência...
As festas do Divino Espírito Santo da CMPDL enfermam de um afã irreal. Por isso, critico-as. Com o direito que me assiste, enquanto cidadã deste concelho.
Não querendo "instituir-me" como mais uma "voz dissonante". Mas, apenas, como Pessoa capaz de "pensar por conta própria" (Hamman). Mais, devo dizer-te, que as críticas (legítimas) do Bispo de Angra e das Ilhas dos Açores não te dão razão para o apelidares de " vigário geral da diocese de Angra do Heroísmo". Mais não seja, porque a pessoa em questão é o representante máximo da Igreja Católica na Região Autónoma dos Açores.
Não me vou alongar muito mais, até porque não quero esgotar este assunto, até ao fim do pavio, mas não posso terminar sem te perguntar, ainda, qual é a semelhança que encontras entre a Côroa Grande (para não dizer enorme) colocada nas Portas da Cidade e as Sopas do Divino Espírito Santo oferecidas ao Sr. Presidente da República por ocasião das comemorações do Dia de Portugal ou as Sopas oferecidas aos Marienses no Dia dos Açores?
Nenhuma. Claro que nenhuma. Porque aquela Côroa não tem significado Tradicional nenhum. Aquela Côroa não expressa o que quer que seja da nossa Cultura, nem simbólica nem institucionalmente. Aquela Côroa é tão somente, a exibição do tal "afã irreal" de que te falava anteriormente, fruto de uma necessidade atroz de mostrar muito às pessoas, símbolo de onde irradia a farsante atitude de que são "cheias" estas Festas do Divino Espirito Santo celebradas na Cidade de Ponta Delgada, pela Câmara Municipal, simbolicamente instituídas como o pão e o circo de uma política, à qual, eu não tenho que dizer "amen".
A oferta das Sopas do Divino Espírito Santo ao Sr. Presidente da República, em dia de Comemoração do Dia de Portugal( ou, em Santa Maria, no Dia dos Açores) é, pura e simplesmente, um momento simbólico, culturalmente enraízado em tradições açorianas. Típicamente nosso. Uma forma de obsequiar as autoridades, no primeiro caso, e as pessoas, no segundo, com uma coisa que é muito nossa. Sem comparação possível. Dir-me-ás que não. Já estou à espera. Mas lamento João Nuno, como poderás entender, mesmo debaixo da bandeira incolor do D.E.S., que eu Respeito, mais do que tu possas imaginar, eu não concordo com estas Festas da CMPDL. Não concordo com o fogueteiro instalado à roda da celebração de umas Festas que me habituei a ver pequenas, celebradas num espírito de união e fraternidade, de lealdade e de fidelidade às Tradições dos Açores.

Atenta contudo, que esta saudável diversidade de opiniões não faz de mim uma herége, desviada mecanicamente das Festas da Câmara. Não. Nem tão pouco estas minhas palavras devem ser entendidas como querendo eu acabar com as Festas.
Eu gosto das Festas do Espírito Santo do Concelho de Ponta Delgada.



Post Scriptum 1: Bem sei que não comparaste a Côroa com a oferta das Sopas. Mas não é a Côroa parte da Festa da CMPDL?

Post Scriptum 2: Tradicionalmente, em Ponta Delgada e, na ilha de São Miguel, não havia "Sopas" do Espírito Santo havia o "Jantar" do Espírito Santo.
Porquê "Sopas"? Porque não organiza a Câmara um "Jantar" do Espírito Santo?

6 comentários:

Pedro Arruda disse...

antes de vir aqui já tinha deixado um comment no texto do João Nuno e por isso deixo um aqui também.
Na minha modesta opinião de indivíduo com uma relação mal resolvida com o Divino e de gajo que detesta tudo que seja popularucho, a principal crítica que faço a esta coisa da CMPD é a estúpida grandeiosidade, ou mania da grandeza, as festas do ESpírito Santo são e foram sempre uma coisa da comunidade pequena, de vizinhos, e não este fogo de artíficio armado em estado novo de festas da concelho todo.
Ma sos partidos têm que ter muito cuidado com o que dizem para não morrerem como a pescada...
Salve camarada Mariana.

Nuno Barata disse...

Assino por baixo do Pedro. Falta só uma coisa. A coroa gigante é só comparável à tourada, essa tradição que o governo, com a ajuda dos caciques locais, recuperou em Santa Maria no dia dos Açores. (falta aqui um gajo a piscar o olho) Passa Cão.

Paulo Pacheco disse...

errr..
o vigario geral
...
NAO É o Bispo...

é mesmo o vigario geral, que por acaso até tomou posse muito recentemente...
:)

JNAS disse...

...Minha Cara e Estimada Mariana,

nada melhor do que a salutar diversidade de opiniões que deve ser sempre acompanhada com a honestidade da argumentação utilizada. Aqui honra seja feita ao meu amigo Pedro Arruda, convicto «Socialista Moderno», que reiteradamente afirma que detesta tudo que seja popularucho...o.s. que «cheira a gente» como bem o disse em tempos o Tózé. Daí que o Pedro Arruda tenha a justa credibilidade de torcer o nariz a estas festas e bem assim a outras como as do Senhor Santo Cristo dos Milagres e por aí fora.

Essa atitude eu respeito e só lamento não conseguir convencer o Arruda e outros a participarem à mesa do Divino Espírito Santo cuja função da nossa Freguesia da Fajã de Baixo foi há bem pouco tempo. Não o vi por lá nem outros tantos que até se dizem devotos desta festa !

Aceito e respeito que à Mariana, e a outros «camaradas», repugne o folclore popular e a Coroa gigantone...Mas não será que com isto estarão a divergir do essencial para se divertirem com o acessório ?

Mais, quando repliquei a acusação de instrumentalização política nem sequer me ocorreu o infeliz episódio da iluminura do Senhor Santo Cristo, mas por exemplo outras acções de «guerrilha» mais recentes...e estrategicamente eficazes. Por exemplo, parece que o Sr.º Bispo de Angra tinha pouca disponibilidade de agenda em participar nas Festas de Ponta Delgada...mas mostrou-se solicito a dar o braço direito a Carlos César na benzedura do novo quartel de bombeiros da Ribeira Grande. Por falar em braço direito - (neste caso esquerdo) - em pouco tempo a dita voz dissonante e crítica passou a vigário geral da Diocese de Angra...coincidência ou consequência???

Como isto já vai longo e não estou aqui para abrir uma polémica com tão estimada colega, que nada tem de herege e traz os Açores na alma, resta-me fazer fé de que um dia possamos estar à mesma mesa de umas Sopas ou Jantar do Divino…de preferência na nossa Freguesia da Fajã de Baixo.

Caiê disse...

Não gosto muito de números, menos ainda de esquemas, mas vou fazer isto assim, porque estou a trabalhar no duro (conhecem, não conhecem? Sei que alguns sim...)

1) Entre o Império dos Nobres e estas Festas do DES a semelhança não está em lugar nenhum;
2) A Coroa Gigante era acessória? Tal era o seu tamanho mega que passou logo a não ser...
3) Eu também não sou "herege" (aliás, acho curiosa essa denominação empregue aqui), mas acho que o espiritual não tem relação, com uma manifestação simbólica de não sei quantos metros... a não ser que precise de re-afirmar alguma coisa. E nesse caso, mal anda a Fé. Parece-me que a mais verdadeira expressão de fé açoriana não precisa disso, subsiste por si. Escusa de ter uma coroa daquelas a sustentá-la.
4) para que misturam aqui política e religião? é um hábito muito mau...

Mariana Matos disse...

Agradeço as palavras do ilustre Amigo ( prefiro amigo a colega, se não te importas) e não, obviamente, esticar muito mais o cordel à novela que já vai longa e não me merece a pena ( a minha ou a dele).
Devo contudo dizer-te que todos os anos, participo nas Festas do Espírito Santo da nossa freguesia da Fajã de Baixo. Este ano não, porque estava em Lisboa, quando as mesmas se celebraram. :)...Mas obviamente que terei todo o gosto em sentar-me à mesma mesa que tu para festejar o Divino Espírito Santo na Fajã de Baixo, em Santa Clara, no Pico ou no Corvo. Com muito gosto. A sério.