sexta-feira, junho 17, 2005

Há-de haver história sem história... Parte II, porque nunca é pedir demais.

Este post obriga a uma leitura do meu post Há-de haver história sem história... e aos comentários de Dionísio de Sousa ao mesmo.


Em relação às afirmações de Dionísio de Sousa, feitas em comentário, um poderia escrever páginas, mas o blog não é o sítio próprio para compêndios (para qual nem é certo se para tal teria capacidade) e como o próprio diz, vemo-nos obrigados a resumos e metáforas.
Tenho no entanto de escrever que agradeço a amabilidade da resposta.
Em relação aos excertos apresentados, sou no entanto obrigado a escrever que, não reconheço em Saes Furtado nem méritos de grande historiador, nem mérito de testemunha viva do 6 de Junho (dois méritos que não se aplicam a mim próprio). O seu excerto parece-me pobre e apenas representativo das memórias de um homem demitido por vontade de outros e, das duas uma, ou enganado por milhares de pessoas, ou enganado com milhares de pessoas.
Em relação ao texto de Mário Mesquita, aceito-o, num contexto que em nada tem a ver com a relação histórica entre o 6 de Junho e a Autonomia, como um texto obviamente superior, compreendo essa crónica feita em 87, interrogo-me porque terá Dionísio de Sousa escolhido um excerto com uma referência a uma opinião, politicamente incorrecta, escrita pelo deputado Lacerda, penso que, no primeiro quartel do séc. XX.
O que mais me desilude, nem é a escolha de um excerto de Saes Furtado, mas o facto de os dois excertos, especialmente o segundo, no seu todo, e na minha opinião, em nada validarem o seu escrito sobre a não relação histórica do 6 de Junho e a Autonomia.
O que eu penso é que gostaria que se deduzisse do primeiro texto que o 6 de Junho foi uma manifestação em que uma multidão e um general foram manipulados por um pequeno grupo de independentistas que tinham tudo planeado ao minuto pois se assim não fosse e se a multidão descontrolada tivesse gritado uns minutos antes a palavra independência, o general não se teria demitido pois não teria gostado e não poderia ouvir tal coisa. Do segundo texto, que se deduzisse que qualquer projecto independentista é interpretado pelos cérebros esclarecidos e viajados pela Europa como um processo que resultaria, por desejo ou incapacidade, numa anexação ao Estados Unidos, projecto esse que só conquista, e só em tempos de crise, os pobres coitados que, nunca tendo viajado pela Europa, olham “comme une brute” para as terras do “uncle Sam”.
Para concluir, mesmo que o 6 de Junho tivesse sido uma manifestação em que uma multidão “des brutes” e um general demitido foram manipulados por um pequeno grupo de independentistas, penso que não será muito difícil usar da sua capacidade de raciocínio e fazer o caminho, neste caso não muito longo, entre a causa e o efeito, o princípio e as consequências, e deduzir que essa enganosa, ou enganada, multidão criou plataforma e deu força a qualquer reivindicação feita em seu nome e que a utilização dessa força e dessas reivindicações resultou numa autonomia imposta por um estado ainda repleto de tiques colonizadores. E, se não lhe parar o coração, entretenha a ideia que, sim, esta autonomia é resultado de um grito de independência.

7 comentários:

João Pacheco de Melo disse...

Trinta anos é muito tempo, mas desde sempre - por isso não pode ser resultado de confusão causada pelo decorrer dos anos - tive a ideia de ter ouvido da boca do General APM (eu, até ir para o ERA, ou estive no hall do Palácio da Conceição ou na primeira linha mesmo por baixo da varanda), como justificação para a desmobilização da multidão - que só aconteceu ao fim da tarde - que ele próprio já encetara os primeiros contactos para a negociação da Independência.
Claro que ninguém acreditou. Logo se assumiu ser aquela uma manobra para ganhar tempo, e daí algumas das tomadas de posição imediatas, entre elas a obstrução da pista do aeroporto de PDL.
O que não me recordo de ouvir, nunca (nem em comentários contemporânios aos acontecimentos),
foi o General a dizer que "estava ali um oficial do Exécito português que não podia ouvir uma coisa dessas"!

Mariana disse...

anónimos então...são mais que os palermas!...

Dsousa disse...

Só mais algumas observações, que julgo finais,ao último texto de Tozé. Em primeiro lugar, chamar-lhe a atenção para a circunstância de ele cometer dois lapsos factuais. O primeiro deles não terá grande importância para a interpretação do sentido da manifestação de 6 de Junho, mas o segundo acho que tem. O primeiro é falar num "general demitido". Do 6 de Junho não resultou a demissão do General Altino de Magalhães, mas do Governador Civil, Borges Coutinho. O segundo equívoco é em relação à caracterização da manifestação como independentista, em função dos gritos nesse sentido que só teriam aparecido no seu final. Na realidade, não é assim. Essa caracterização da manifestação é aceite por todos os testemunhos e intervenientes. O próprio testemunho do João Pacheco de Melo,no primeiro dos três comentáriores anteriores ao meu, vem reconfirmá-lo. Posso acrescentar também o de Gustavo Moura, no "Açores" do dia seguinte à manifestação, em que ele diz:"Os gritos de independência cedo ultrapassaram todas as outras reivindicações"( (cfr.Medeiros Ferreira, in "História de Portugal"de J.Mattoso, Circ. Leitores, 8ºvol. Lx. 1993, pag. 182/3).
Quanto ao resto, provavelmente, vai-se repetir o que é comum nestas discussões. Reconhecer, entre nós, uma divergência de fundo, sobre a interpretação global da história açoriana neste período.Para si, o 6 de Junho é uma manifestação de função, conteúdo e importância autonomista, apesar da sua face visivel e manifestamente independentista. E assim interpretada, na altura, por todos os seus intervenientes, manifestantes e autoridades.
Para mim, esta interpretação "autonomista"não se justifica senão como leitura posterior,para a tentar enquadrar na outra corrente historicamente vencedora da solução autonomista para os Açores.
Ninguém lhe pretende recusar o papel histórico que possa ter tido na movimentação política global do arquipélago,mas nesse sentido é tão relevante como qualquer das outras duas que ficaram para a história desse período, a de 17 de Junho e a de 17 de Novembro. Tendo até especial significado autonomista esta última, em que há separação de águas independentistas ( ou, mais rigorosamente separatistas) e autonomistas, que, até então, tinham andado misturadas. Quanto a "autonomia imposta", só conheço a de Salazar, com o decreto de Julho de 1928. Pois até as anteriores autonomias distritais foram de livre escolha dos distritos que as quiseram. Pelo que respeita à actual autonomia penso que ela tem muito mais a ver com a vontade expresssa e sucessivamente reafirmada dos açorianos do que com possíveis "tiques colonizadores" de Lisboa.Quanto aos gritos de independência não me param o coração. Fere-me é o cérebro querer fazê-los passar por gritos de autonomia.
Por mim, parece-me ter dito o suficiente para deixar clara a minha posição. Mas, se porventura, surgir alguém a trazer dados ou aspectos novos a este tema, não terei qualquer problema em voltar a ele. Até porque tive todo o gosto e proveito nesta breve troca de ideias e opiniões.

João Pacheco de Melo disse...

Eu não quero, de forma nenhuma, contribuir para aumentar os equívocos que, cada qual conforme lhe foi ando jeito, foi criando. A maior parte deles, diga-se de passagem, com discussões como esta, de uma forma ou de outra, vão sendo clarificandos.

Já fiz duas ou três leituras ao último comentário de DSousa - este comentário não é fruto de um primeiro impulso -, e, confesso, tenho alguma dificuldade em entender:
“O segundo equívoco é em relação à caracterização da manifestação como independentista, em função dos gritos nesse sentido que só teriam aparecido no seu final. Na realidade, não é assim. Essa caracterização da manifestação é aceite por todos os testemunhos e intervenientes. O próprio testemunho do João Pacheco de Melo, no primeiro dos três comentários anteriores ao meu, vem reconfirmá-lo.”
Se, ali, o que se pretende dizer é que o meu testemunho demonstra que aquela não era uma manifestação de cariz independentista, não o posso aceitar!
Eu disse, e reafirmo; “sempre tive a ideia de ter ouvido da boca do General APM como justificação para a desmobilização da multidão – que só aconteceu ao fim da tarde – que ele próprio já encetara os primeiros contactos para a negociação da Independência.
Claro que ninguém acreditou.”
Clarificando; ninguém acreditou que ele estivesse a “negociar a independência”!
Mas daí a dizer que aquela não foi uma manifestação em prol da INDEPENDÊNCIA DOS AÇORES, vai uma diferença como do dia para a noite.

É factual que as faixas de indiscutível apoio à INDEPENDÊNCIA, entraram na manifestação já 50% do percurso tinha sido percorrido. Mas é também factual que este material foi preparado com alguns dias de antecedência, e que, no próprio dia 6 de Junho, não foram “os autonomistas” (nem os velhos nem os novos) quem andou de porta em porta; comércio, serviços e indústria de Ponta Delgada, para garantir o efeito que a manifestação acabou tendo.

Para os apoiantes da INDEPENDÊNCIA os objectivos do 6 de Junho foram mais que atingidos. A hora não era aquela, com o desenrolar dos acontecimentos o dia D (admitido para acontecer pouco tempo depois) ficou adiado por uns anos, e quando foi possível reprogramá-lo, foi o foi…

(mas isso outros que o digam)!

Dsousa disse...

Só para uma nota final, tendo em conta a dúvida suscitada pelo meu último texto ao J.Pacheco de Melo. A minha opinião coincide inteiramente com a dele, pelo que respeita à caracterizção da manifestação como independentista. Um abraço a todos.

Anónimo disse...

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