rumo
I
A Mente. Essencial. Divaga.
Faz-te ao mundo com circunflexos e S´s metidos nas algibeiras para poderes multiplicar os outros e eles parecerem muitos e quando abrires as portas, continuarem a estar muitos (re) flectidos na tua vida, flectidos em vogais circunflexas por isso mais, digamos, isolados no chapéu, mesmo que gráfico da tua memória.
II
O essencial é não perderes de vista a tua sombra, andares como quem chega ao Paço; soletrares com as solas dos sapatos, as tuas razões de chegada, as tuas razões de partida. Se o não fizeres, verás, és ausente e os ausentes não nos servem, nem se servem para nada.
III
O essencial é ser-se triste e não contar a ninguém. Ter-se a alma desfiada numa arquitectura de ramos e deixar que dos bastidores dos sentimentos saiam palavras iludidas na medida isoladora das saudades dos barcos e das gaivotas penduradas nos mastros.
IV
O essencial, às vezes, mente. E diz-se, nas palavras, dos eruditos, essencialmente. Censura. Descobre que unicamente, rigorosamente e plenamente são palavras doridas como pescadores, lavradores e amadores.
Mesmo assim,aprende as palavras dolentes.
V
O essencial é veres o mar e as ilhas todas enfileiradas, medidas por raízes quadradas tuas, como se fossem arquitectadas por ti, na medida exacta dos teus sonhos; essencial é não perderes as palavras as que fogem nos bicos das gaivotas, as que mergulham nas rochas do porto da tua infância, onde em tempos, o essencial era apenas uma bóia para não morrer no mar.
VI
O essencial é seres da Tua Terra. Da tua mãe e do teu pai.Seres dela e deles, como as palavras que te fazem ser dela e deles, explicadas em sentimentos, que, convém, sejam teus, atribuídos aos teus significados, que, não muito distantes, mas por vezes, aceito, longe dos seus significantes, se soletrem como (quase) vazios.
VII
O essencial é nunca deixares de escrever. Mesmo que, muitas vezes, te pareça que as palavras saem marteladas ao custo de menos umas horas de sono e aparentem ser estranhas ao corpo de texto, que te apetecia dizer, como se, enfiadas nos seus dicionários, ou no teu, muito próprio, elas não quisessem sair.
VIII
O essencial, no fundo, é não fazeres como eu, não te repetires muitas vezes, não tomares essa opção redundante de quem, por defeito, mania ou desconhecimento, se resguarde nos vocábulos, se prenda nas analepses, se perca na metaforização, na comparação desmedida, na queda personificada dos Ases e dos Bês, determinantemente afectivos, estilhaçados no corpo, como sinais.
IX
Aceita-te como essencial à construção da tua memória.
X
Se os outros pararem, não desistas.
Pessoalmente resvalas,divagas, mas não morres.
Respira.
Do fundo.
(* bom fim de semana)
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