Na passada
semana discutimos no Parlamento Regional a Conta da Região do ano 2012. Esta
análise mais não é do que um retrato em números da execução financeira da
atividade do Governo Regional e do seu sector empresarial. Revela também, por
exemplo, através dos números da receita fiscal, o comportamento da
economia regional durante este ano.
E é assim que devemos fundamentar as nossas análises - com factos - e
não recorrer como é habitual - em muitos comentadores,
jornalistas ocasionais de sábado à tarde, profissionais da
decomposição no facebook ou de personalidades tão complexas, que “unicamente”
em si concitam a posição “imparcial” de
economista/político/empresário/guru da economia açoriana/líder da
oposição/etc. - à opinião baseada nos nossos anseios, interesses
e convicções, como se esta fosse uma verdade científica.
Se relativamente ao ano de 2012, contrariamente ao que muitos
diziam, percebemos que "os Açores cumpriram integralmente as
metas orçamentais com que se tinham comprometido - e até tiveram resultados
melhores do que se tinham comprometido -" e que “as empresas
públicas (…) passaram por um processo de consolidação e estão, de
forma geral, em equilíbrio”,conforme assinala a Comissão Europeia, algumas
vozes, aproveitando-se da nossa situação de crise, tentam impor o discurso de
que os Açores tiveram perto de duas décadas perdidas no seu desenvolvimento.
Ora analisando o mais recente relatório da Fundação Manuel dos
Santos/Pordata, “Retrato dos Açores” e outros indicadores
e dados estatísticos do INE, verificamos que aconteceu exatamente o
contrário.
Se em 1993, os Açores eram a Região mais pobre do Pais, com um
poder de compra per capita perto dos 65% da média nacional, hoje
estamos a meio da tabela, com 82,4%.
Ao nível da educação, apesar dos desafios que ainda se colocam, também
temos resultados animadores: em 1981 a nossa Região tinha uma taxa de
analfabetismo acima da média nacional, enquanto hoje reduzimos essa taxa em
perto de vinte pontos percentuais, para 4,7% da população, enquanto o país tem
5,2%. É igualmente indiscutível que temos hoje mais e
melhores escolas.
Ao nível do turismo, os resultados são também animadores: em 1995 as
dormidas de turistas na Região estavam perto de atingir as 400 mil, enquanto
hoje já ultrapassam largamente um milhão; o crescimento da receita direta
desta atividade quadruplicou durante este período.
Ainda ontem noticiava o Açoriano Oriental, numa reportagem sobre a
conferencia que analisou o relatório da Pordata, que “Sobre a
convergência com a média da União Europeia (…) Augusto Mateus
defendeu que os Açores estão onde devem estar, a meio da tabela das regiões
nacionais, não devendo olhar para o topo da tabela onde Lisboa concentra muita
da riqueza que, na verdade, é produzida na região vizinha de Setúbal e a
Madeira tem o seu PIB claramente valorizado pela Zona Franca. Elogiou o facto
dos Açores, com uma pequena população trabalhadora, se destacarem mais pelo
lado da produtividade, face a outras regiões do país, onde é o fator
população empregada e riqueza bruta que mais se destaca, um fator contra o qual
os Açores pouco podem fazer.”
Os Açores dispõem hoje de uma rede social sem paralelo no país -
creches, jardins-de-infância, lares de idosos, centros de dia, etc. – acessível
a toda a população, a um custo muito menor do que no continente, tal como,
disponibiliza um conjunto de apoios sociais – "cheque pequenino",
complemento de pensão, complemento de abono de família, remuneração
complementar, etc. – que visam diminuir as desigualdades sociais e garantir uma
verdadeira igualdade de oportunidades.
Se todos estes avanços foram conquistas importantes, também é verdade,
que numa economia periférica como a nossa, o desafio do crescimento harmónico
rapidamente pode ser posto causa por crises conjunturais como a que
atravessamos ou outras que no passado nos atingiram. Basta pensar que desde
1996 o Governo dos Açores investiu perto de 500 milhões de euros a recuperar
infraestruturas atingidas por calamidades naturais, ou seja, garantiu, como é
sua obrigação, a segurança das suas populações, sem que isso significasse, à
partida, qualquer tipo de retorno económico.
Como também o desenvolvimento traz novos desafios, por exemplo:
ultrapassado o desafio de levar as crianças ao sistema educativo é necessário
que estas tenham bons resultados ; ao tornar o turismo um dos pilares de
desenvolvimento dos Açores, é necessário garantir um retorno económico adequado
e garantir a sua qualidade; ao criar uma boa rede social nos Açores, é
necessário garantir a sua sustentabilidade através de reformas no seu
funcionamento.
Nestes tempos de pessimismo onde
a esperança parece estar longe do nosso dia-a-dia, todos estes dados são boas
notícias. São boas notícias porque percebemos melhor que esta
crise apesar do que nos dizem alguns “Velhos do Restelo” não veio
para ficar. São boas notícias porque conseguimos ver que não estamos
a andar para trás e que, ao contrário do que apregoam alguns arautos da
desgraça, há esperança no futuro. E há esperança nos Açores.