O Natal antecipa a chegada de um
ano novo, que parece estender-se comprido e largo, provando, depois de passar,
que afinal era curto, que o tempo não foi suficiente, que perdemos demasiadas
horas, por vezes dias, a tentar endireitar coisas que não querem sequer “ouvir
falar” em endireitar-se; a discutir e debater evidências, ou mesmo a fazer de
lutas de outros, lutas nossas, como se fôssemos ganhar um lugar no céu… ou uma
medalha.
(Dezembro é o mês em que nos apercebemos
que não somos imortais).
Quando olhamos para trás,
rapidamente, vemos que entre um novo mês de Janeiro e este velho Dezembro
ficaram planos por cumprir, ideias por tornar reais e pessoas de quem
gostávamos, ou por quem tínhamos certa admiração.
Dezembro é o mês em que juramos,
a nós próprios, cumprir a divisa de “não olhar para trás”, conselho que, como
se sabe, foi dado a Dante (em “A Divina Comédia”) por um anjo guardião, para
não por tudo a perder…antes do tempo.
Quando enfiamos as mãos nas algibeiras,
os dedos recolhem rebuçados para suavizar as dores (de garganta), meia dúzia de
boas gargalhadas, alguns abraços e outros amigos, entre certa quantidade de
mediocridades, indecências, faltas de carácter e cobardias. Assim é a vida,
como uma canção, cuja voz por vezes desafina, enquanto outras tantas afina.
Dezembro é pois o tempo de fincar
os pés no chão; de assumir que o fim de mais um ano é o princípio de outro, que
pode até ser o último.
Dezembro traz um entendimento
mais autêntico de que podemos mesmo morrer amanhã e que não ressuscitaremos,
nem sequer para salvar o mundo, por mais vontade que possamos ter.
Há quem morra de amores, quem
morra de doença, quem morra por acidente ou até quem morra de saudades. Se o
Natal não for exactamente igual ao que era antes ninguém morre. Porém, morrer
de saudades pode efectivamente matar (até) o Natal.
Dezembro é também tempo de “tomar
partido”. De “tomar partido” por nós, pelo que temos de mais nosso e de fazer
tudo para por o pé em Janeiro com certezas, muitas dúvidas e firmeza, em
equilíbrio.
Travaremos as lutas que
quisermos; percorreremos os caminhos que entendermos e as nossas estrelas,
assim como os nossos heróis, deverão ser os mais simples e possíveis.
Dezembro pede que se acabem as
complicações e que estejamos presentes, com o direito de, por vezes, estarmos
ausentes e emudecermos.
No Natal, em Dezembro de agora,
haverá meninos e meninas sem as suas “palhinhas”, nem o colo das suas mães, nem
o abraço dos seus pais. Alguns estarão longe por dever, obrigação ou escolha,
outros terão as suas razões muito próprias e legítimas, outros ainda estarão
cansados e resignados. Pais e Filhos. Mães e filhas. Filhas e pais. Filhos e
Mães.
(O contrário também existe. Nem
tudo é mau.)
Pediram-me para escrever sobre o
Natal e fi-lo.
Não me apeteceu falar da chaminé,
das renas, da neve, das meias penduradas, das prendas do bom velhinho ou sequer
da árvore de Natal. Das bolas, das luzes, das fitas e do burrinho.
Sei, como sabemos todos, que
Dezembro chegando a todos, não traz o Natal igual a toda a gente.
Pois então que chegue Janeiro de
2014, porque 2013 está agora por um fio.
Os dias estão mais frios, as
noites mais longas e há no ar um certo sentimento de cansaço que apela à
novidade de um ano novo para, ao menos, variar o tema.
(Boas Festas).
Açoriano Oriental, 25 Dezembro de 2013