terça-feira, outubro 20, 2009

O Fífia é um palhaço em ponto pequeno


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O Fífia é um alfinete em ponto pequeno. Cabeça de agulha, lente de aumentar; falar sibilante; gingar grosseiro e abanado; o Fífia não vale a pena, mas merece a pena…
O Fífia é uma sopa sem sal; uma dor que corre por dentro da garganta, quiçá por cigarros a mais…
O Fífia é uma homenagem em ponto pequeno; um escrito debaixo das linhas dos cadernos pretos a que chamam Moleskine, que se derrete entre-dentes, como as personagens de Mário de Andrade, numa trovoada de florestas brasileiras, às quais acorrem índios e índias, com falares muito próprios e espadas de madeira e folhas.
O Fífia podia ser o segredo que se guarda nos livros depois de os lermos, mas de tão espalhafatoso que é, acenando com a cabeça, numa atitude de Genoveva ou Julieta, acaba por nos morrer na ideia; não se deixando instalar como recordação boa.
O Fífia é um segredo mal guardado em dimensão excessiva. É a palavra que se atira por cima da gente; a estrela que pensa trazer na cabeça, mas que não traz; o artigo de jornal que queria escrever, mas que aparece escrito por outros, todos os dias na comunicação social.
O Fífia é um ladrão em ponto pequeno. Um jarro em ponto pequeno. Um grito em ponto pequeno. Uma peça de dominó em ponto pequeno com o Donald gravado no verso.
O Fífia é uma chama em ponto pequeno, apagando-se no mesmo instante em que as palmas à música que outros cantam, começa a tocar.
O Fífia é o quadro que outros pintam; o livro que outros escrevem.
O Fífia vive no seu mundo em ponto pequeno, onde só cabe ele; fechado na sua redoma cor de carmesim; visitado por moscas, em cujas asas bate o ritmo do seu coração.
Queria ser capa de revista, concorrente do circo das Estrelas; não pela magia do circo, mas sim, porque sempre quis andar em cima de elefantes agarrado a todas aquelas celebridades; poder beijar o Carlos Xavier, abraçar o José Castelo Branco; ser parte integrante de um programa de cultura como o Circo das Celebridades. (Está confiante de que nos Açores, o programa ainda não se fez, porque ainda não o descobriram).
Ele que em cada fala está uma gargalhada; ele que administra bem a sua fama; ele que, no café do supermercado do seu bairro, entra e é logo colhido por mais de mil sorrisos das senhoras que, aquela hora, o frequentam.
O Fífia é qualquer coisa que está para acontecer e que, se acontece, ele diz ter sido copiada a ideia.
O Fífia não se perde, retoma; não se desfaz, está colado. Falta-lhe só o nariz vermelho.
O Fífia é um palhaço em ponto pequeno. [“E Deus nos livre se o fosse em tamanho normal”].

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