domingo, junho 12, 2005

Contributo

(...) Para Vitorino Nemésio a Geografia predominava sobre a História. A açorianidade testemunhava uma idiossincrasia própria: "o nosso modo de afirmação no mundo, a alma que sentimos, na forma do corpo que levamos" (...) "uma forte variedade da nação portuguesa, criada em meio milénio no isolamento norte-atlântico.
Fora da ilha ou da região, continua a vê-la e a senti-la: A nortada encheu de ilhas o horizonte / olhando bem nenhuma è verdadeira / mas cada uma em mim tem porto e monte / que eu sou homem que vê de outra maneira.

Daí e num dos momentos altos do seu percurso, ao receber o Prémio Montaigne, atribuído pelo contributo para o património cultural da Europa e a defesa da universalidade da literatura, quando procedia ao balanço da sua vida e obra, afirmar categoriamente: Sou ao mesmo tempo e, acima de tudo, português açoriano europeu, americano brasileiro e, por tudo isto, românico hispânico e ocidental e gostava de ser homem de todo o mundo.
Decorrido menos de um século após o povoamento das ilhas, há açorianos a frequentar cursos de Leis, Medicina e Teologia em Coimbra, Évora e Salamanca. Está provado que Rui Gonçalves, natural de São Miguel, foi para Coimbra e, em 1539, ascendeu à cátedra. No século XVI, no itinerário da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, deparamos o açoriano Diogo Pereira, filho de Ana Pereira, cujo pai, o flamengo Guilherme Van der Hagen, está na origem de gerações sucessivas de várias ilhas e que tomaram o nome Silveira. Mas não foi só Fernão Mendes Pinto que falou desse longínquo cidadão dos Açores errando pelo Oriente. Também o identificou e referiu Diogo do Couto, nas Décadas.
Vitorino Nemésio, ele próprio, no seu modo de ser e de agir e através da componente da sua obra literária, constitui o exemplo do homem universal, do açoriano no mundo sempre disposto a participar no encontro de civilizações e de culturas."


"Açoriano Universal", António Valdemar
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4 comentários:

Caiê disse...

E pronto! Cá está um pouco de texto que permite ver a quem poderia ter alguma dúvida que não entra em contradição alguma em VN o "caractér português do açoriano". Os cidadãos do mundo não costumam ter bairrismos tão petit.

Ma di questo non parlaremo piú... como diz a ópera. Até porque uma voz que não encontra eco, cansa-se.

Pedro Arruda disse...

óptimo contributo, e ao contrário do que possa parecer vêm ao encontro do que pretendo defender.

gm disse...

...e como dizia a minha avó «albarda-se o burro à vontade do dono»! :) eheh

Caiê disse...

vimos todos?