segunda-feira, maio 10, 2010

O Problema de Portugal



Acordamos, há dois dias, com a notícia preocupante de que o país podia estar na mesma situação da Grécia, ou seja, que poderia não conseguir cumprir com os pagamentos da nossa dívida ao exterior. Esta notícia surge do facto da agência financeira S&P ter baixado a nossa notação - o índice que avalia o risco de incumprimento do pagamento da nossa dívida, em dois níveis, de “A+” para “A-“ (Qualidade Média a Elevada, mas algo Vulneráveis às Condições Económicas), o que provocou uma descida acentuada na bolsa e uma escalada nos juros da dívida.

Mas o que todos os economistas internacionais e nacionais, mais conscientes e menos alarmistas, se perguntam é o que se passou num espaço de um mês em Portugal passarmos de um país com dificuldades, mas cumpridor dos seus compromissos financeiros internacionais, para um país em risco de incumprimento? A Resposta é muito simples e confirmada até pela prestigiada revista The Economist: nada!

O que todos os analistas são unânimes em dizer é que a situação portuguesa não tem semelhanças com a da Grécia. “Em Portugal e Espanha, se olhar para os números, vê que estes não podem ser comparados com os da Grécia”, disse Ewald Nowot, membro do Conselho de Governadores do BCE. Para percebermos melhor do que estamos a falar, basta comparar alguns dados entre os dois países: Portugal reportava um défice de 9,4 por cento do PIB e uma dívida pública de 76,8% do PIB, a Grécia reportava um défice de 13,6% do PIB e uma dívida pública 130% do PIB. Outro factor que diferencia e muito os dois países está relacionado com a credibilidade das contas públicas portuguesas, muito elogiadas pelo Eurostat, enquanto que Grécia falhou praticamente todas as estatísticas entregues a Bruxelas.

Então porque somos postos praticamente no mesmo saco de uma economia com tantas debilidades como a da Grécia? Será que somos alvo de especuladores gananciosos, como refere o Ministro das Finanças?

Na minha opinião estas especulações existem mas não são o principal factor da actual crise de confiança que vivemos. A meu ver esta crise deve-se sobretudo a dois factores: por um lado, sofremos hoje, nos mercados internacionais, do problema da cura crise internacional. Traduzindo por miúdos, as agências de rating, que foram, no passado, as causadoras da crise internacional económica e financeira, devido ao facto de terem subestimado o risco de incumprimento do sector financeiro que era na verdade muito real, hoje, são extremamente cautelosas, não correndo qualquer risco de falharem nas suas previsões. Isto faz com que a avaliação do risco de incumprimento do nosso país peque sempre por excesso por forma a não serem acusadas de não terem avisado da possibilidade de crise.

Por outro lado, a situação que também assusta os mercados internacionais é o facto de o nosso país ter um défice estrutural de formação e de produtividade que não permite que as perspectivas de crescimento da economia sejam suficientes para conseguirmos aumentar a nossa receita fiscal e diminuirmos a nossa balança de pagamentos através do aumento das exportações. Assim, percebemos que na perspectiva dos mercados, o problema português, não está só na contenção da despesa (este é o problema menor, pois é conjuntural), mas sim de que servirá todo o esforço de apertar o cinto das populações se a economia não arrancar e começar a criar riqueza e emprego.

A meu ver, o grande problema que temos de lidar - e não é a primeira vez que escrevo sobre isto - não é como vamos fazer cumprir o Programa de Estabilidade ou corrigir os problemas do excesso de zelo das agências de notação internacionais. É, sim, que modelo de desenvolvimento que nos propomos criar que resolvam os nossos défices estruturais.

Sem comentários: