“A decisão é inédita no mandato de Cavaco Silva: o Presidente da República vai hoje falar ao país, pelas 20h, através de uma comunicação oficial feita a partir de Belém a ser transmitida pelas televisões.”in Publico 30 de Julho de 2008
O País aguardava com expectativa e apreensão a comunicação do Presidente da República. Estaria em causa a dissolução do Parlamento? Um novo período de cooperação estratégica com o Governo da República? Iria ele demitir-se? Não! O problema era muito mais grave do que isso. O facto do Estatuto Politico Administrativo dos Açores prever a dissolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, obrigando o Presidente da República a ouvir a Assembleia Legislativa, os seus grupos representados e o Presidente do Governo Regional, “punha em causa o equilíbrio e a configuração de poderes" do sistema político. Ou seja, o futuro de Portugal estava em causa, não por causa da crise económica, do desemprego ou pela falta de competitividade do nosso tecido produtivo, mas sim, porque Cavaco Silva tinha de fazer três reuniões, dentro da sua ocupada agenda de PR, para ouvir os órgãos de Governo próprio dos Açores sobre um assunto que diz respeito à dissolução de um destes mesmos órgãos.
Ficamos então a saber, não apenas o Povo Açoriano, que já o conhecia enquanto o Primeiro-Ministro que ignorava as regiões autónomas, mas todo o Povo Português, que o titular do mais alto cargo da nação, Cavaco Silva, é um anti-autonomista convicto, que tudo fará para atrasar ou impedir o desenvolvimento do nosso processo autonómico que tanto desenvolvimento trouxe para a nossa terra.
Qual não é o meu espanto quando a líder do PSD/Açores, responsável máxima de um partido que, no passado, muito contribuiu para o desenvolvimento da nossa autonomia, vem por iniciativa própria, elogiar o actual Presidente da República, afirmando inclusive, que este,” é o único que garante uma leitura adequada e segura do quadro constitucional em função das movimentações político-partidárias que possam ocorrer na região e na República”.
Para além de um ou outro militante, leal à sua chefe, que prontamente a defenderam em tão absurda ideia, o curioso foi o silêncio incómodo das estruturas de base do PSD, talvez ainda, a preparem-se mentalmente para digestão de tão enorme “sapo”, chamado Cavaco Silva.
Sem papas na língua esteve e bem o histórico militante do PSD/Açores, Jorge Nascimento Cabral, ao chamar a atenção do seu partido da seguinte forma: “É preciso o PSD/A não ter dignidade nem vergonha na cara para tomar tal decisão, assente, ao que parece, na colagem à prevista vitória do arqui-inimigo da Região Autónoma dos Açores”.
Para o PS a escolha de um candidato não é difícil. A meu ver, há cinco anos atrás o PS fez a escolha correcta ao apoiar o seu “pai fundador”, Mário Soares, pelo facto deste comungar com o PS uma visão do nosso país mais humanista, social-democrata e autonomista. Hoje, o único candidato consistente que compreende estes requisitos é Manuel Alegre.
Hoje, o único candidato com possibilidades de derrotar Cavaco Silva e assegurar a defesa do nosso regime autonómico, das nossas finanças regionais, de uma educação pública e de um Serviço Nacional de Saúde, universal e tendencialmente gratuito, é Manuel Alegre. A comprovar a visão autonomista de Manuel Alegre está o facto de ter sido o primeiro e único candidato, a Presidente da República, até aos dias de hoje, a apresentar a sua candidatura na nossa terra.
A escolha coerente para o Partido Socialista dos Açores é apoiar Manuel Alegre, porque esteve sempre ao lado dos Açores e dos açorianos, mesmo quando não o apoiamos. Resta saber apenas, se o PSD Açores manterá a sua incoerência até ao fim.
Nas próximas eleições presidenciais estão em causa duas visões distintas do mundo e do país. Cavaco representa a desconfiança típica dos que continuam a ver Portugal como um estado unitário, centralista e passadista. Alegre representa os que defendem que a autonomia regional é a melhor afirmação de Portugal no atlântico. Para os açorianos a escolha é fácil: escolher quem nos apoia e quem, como Alegre, defende que “as ilhas são a essência da alma nacional”.
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