Li, a propósito da morte de Eusébio, várias
coisas. Ouvi dezenas de declarações sobre o assunto, por isso combinei comigo
mesma que esta crónica não seria sobre ele.
Para quê? Já falou o Presidente
da República, já falou o Ministro da Presidência, entre outras altas figuras
deste nosso “Estado Português” e já todos disseram de tudo. Até apareceu num
canal qualquer Paulo Gonzo a falar sobre Eusébio e ouvi que já há poemas. Só
faltou falar o Representante da República para os Açores. Eusébio esteve cá.
Pedro Catarino podia querer falar, sabe-se lá…
A minha homenagem a Eusébio será
igual à de um senhor que tive ocasião de ler num forum das redes sociais: nos próximos dias, não oiço nem vejo
canais nacionais. Não preciso que me digam como ele era, o que fez, de onde
veio. Eu sei. Acompanhei a vida dele, o suficiente para saber isso tudo e a
minha única pena é que não tenha vivido mais um bocadinho, afinal ainda era
novo. Tinha 71 anos.
Eusébio era mais novo que Cavaco
Silva. Porém, parece que essa coisa da idade não tem nada a ver com morrer. Uma
pessoa vai pela vida e de repente: já está. Também não quero que esta crónica
pareça mórbida, nada disso, mas os dias frios, o atordoamento das políticas
nacionais, aqueles anúncios que vão fazendo a conta-gotas de que vão cortar
pensões e vão sortear faturas e vão, mais dia, menos dia deixar-nos a todos “em
pele e osso” atormentam-me…
Indo eu atormentada com tudo isto
e mais não sei quem, nem sei quantos, eis senão quando dou de caras com a
notícia, no final do ano de 2013, de que Pedro Catarino, representante de
Cavaco Silva, nos Açores tinha mandado o Orçamento da Região Autónoma dos
Açores ao Tribunal Constitucional para ser fiscalizado preventivamente.
Qual polícia da República portuguesa,
o Senhor Representante quer que os açorianos não se “portem mal”, que se
comportem e sejam sacrificados como os continentais, sendo assim solidários,
como deve ser.
A quente (e mesmo agora a frio)
considero que o Senhor Representante da República portuguesa esqueceu-se (o que
é lamentável) que as pessoas que vivem aqui, nestas 9 ilhas dos Açores, têm um
Governo e um Parlamento próprio e que os seus órgãos foram eleitos em
(imagine-se lá) eleições tão legítimas e democráticas como as que elegeram, por
exemplo, Cavaco Silva.
O mesmo, porém não se pode dizer
do Senhor Representante da República. Não foi eleito. Foi escolhido. Por quem?
Por Cavaco Silva. Portanto, para mim (penso que para toda a gente) é claro. No
episódio do Orçamento, o Senhor Representante da República cumpriu uma ordem de
Belém, como já havia cumprido com a sua mudez em relação a assuntos tão sérios
como a Lei de Finanças Regionais ou o diferencial fiscal.
Atitudes deste tipo provam a
minha ideia de sempre: não precisamos de um Representante da República para
coisa nenhuma. Nem deste, nem de outro qualquer. Somos uma Região Autónoma e
não um qualquer condado, controlado por uma espécie de “vice-rei” ou “polícia”,
cuja fatiota tresanda a centralismo.
Pelo que vi na imagem televisiva
da sua mensagem de Ano Novo, o Senhor Embaixador concorda comigo. Prateleiras
de livros e mais livros serviam de pano de fundo à sua figura, sem qualquer
referência aos Açores. A bandeira que fosse. Nada. Só livros a metro.
Aquela mensagem podia ser lida
aqui, na China ou na Rússia. Nada o identificava como sendo quem é ou
representando o que acha que representa.
Açoriano ou açoriana que tenha
apanhado a mensagem a meio, quase de certeza, não soube identificar o senhor e
se apanhou na parte da “Lotaria”, é bem provável que tenha pensado que era
alguém dos "Jogos da Santa Casa" ou coisa parecida…
Assim não vale a pena. De resto
viva o Eusébio, o Benfica e (claro está) os Açores.
Mariana Matos
Serenamente, AO 7 de Janeiro de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário