domingo, janeiro 22, 2012

A ilusão da competência



A gestão da Presidente da Câmara de Ponta Delgada tem uma característica: parece ser o que não é e insiste na ilusão da competência que não existe. Esta não é uma questão de mera interpretação. É sim baseada em factos relativos aos investimentos emblemáticos da autarquia e analisados por entidades idóneas externas.

Falamos, concretamente, em casos que foram anunciados como emblemáticos pelo actual executivo camarário e que, depois, acabaram por ser o que não eram no início ou que custaram muito mais dinheiro do que o inicialmente previsto: Parque Urbano, Parque de Estacionamento da Avenida, Central de Camionagem e Museu de Arte Contemporânea.

Ninguém tem dúvidas que estes foram os quatro investimentos que a Presidente da Câmara de Ponta Delgada fez gala, elegendo-os como as obras de regime dos seus mandatos.

Em relação ao Parque Urbano e ao Parque de Estacionamento da Avenida, o Tribunal de Contas foi claro ao salientar que o “Município de Ponta Delgada assumiu compromissos financeiros no montante de 44 milhões de euros, com incidência nos exercícios de 2009 a 2038”. Ou seja, o parque urbano foi anunciado por 15 milhões, mas acabou por custar 28,8 milhões até 2025. O parque de estacionamento deveria ter custado 8,7 milhões, mas, na verdade, vai custar aos munícipes 15,1 milhões de euros até 2038.


Mas mais do que isso. Em relação ao Parque Urbano, diz o Tribunal de Contas que o “projecto efectivamente implementado não correspondeu ao inicialmente previsto”. Ou seja, desapareceram um pavilhão e umas piscinas e surgiram, no seu lugar, um “driving range” e um “club house” para golfe. A Câmara de Ponta Delgada nunca respondeu porque trocou um pavilhão e umas piscinas que serviriam a muitos, por um “driving range” que serve a muito poucos.

Nada disso é novidade como também não o é a “telenovela” da construção da Central de Camionagem de Ponta Delgada, que mudou de local por várias vezes, até ser abandonada, depois da ideia peregrina de a instalar num dos cruzamentos mais movimentados da cidade na hora de ponta. A mesma “telenovela” parece repetir-se com o Museu de Arte Contemporânea, anunciado para um espaço no prolongamento da Avenida, mas que já passou para o Parque Urbano. Provavelmente, não será esta a última localização.

Na Câmara de Ponta Delgada têm-se as ideias, fazem-se os projectos e, depois, tenta-se colá-los nos espaços vazios. A cidade de Ponta Delgada é, assim, uma espécie de lego da Presidente da Câmara. Se estivesse na governação regional, fazia-se um projecto de um porto e, depois, tentava-se “colá-lo” numa ilha qualquer. Ou então elaborava-se um projecto de uma aerogare e, posteriormente, havia-se de ver para onde serviria.

Mais recentemente, a Presidente da Câmara de Ponta Delgada viu o Tribunal de Contas “chumbar” o concurso público para a exploração dos minibuses e o processo voltou à estaca-zero.

Estes são, assim, alguns exemplos que demonstram, de forma factual, a imagem de competência que a Presidente da Câmara de Ponta Delgada tenta dar da sua gestão. Ou se gastou muito mais dinheiro ou os projectos, pura e simplesmente, alteraram-se ou ficaram adiados por tempo indeterminado.

Nenhum governo faz tudo bem feito ou tudo mal feito, mas é indesmentível que a Presidente da Câmara de Ponta Delgada, nas suas obras emblemáticas, fez muito mal feito.

Quem não consegue decidir onde constrói um museu ou uma central de camionagem acha que consegue governar uma região inteira. A competência vê-se na qualidade das acções realizadas, não nas conferências de imprensa de propaganda.

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