Nada mais falso!
Esta é uma crise económica e financeira, que pode, claramente, permanecer em Portugal, mesmo de todas medidas tomadas correrem bem. Para ser mais claro: o país pode falir, mesmo que resolva o seu problema das contas públicas!
Um ano após o início da crise das dívidas soberanas, três países, Portugal, Irlanda e Grécia, já adoptaram fortíssimas medidas de austeridade económica e de emagrecimento do sector público, sem que com isso os investidores internacionais fiquem convencidos.
As taxas de juro da dívida, destes países, no mercado secundário não param de bater recordes, apesar de tudo o que está a ser feito para satisfazer os credores e as agências de ratings, apostam, já, na queda de outros países europeus, como a Itália, a Espanha ou a Bélgica.
Por outro lado, países como os Estados Unidos da América, Reino Unido e o Japão começam também a ser avisados, por essas mesmas agências de rating, que existe uma possibilidade, cada vez mais provável, de terem de renegociar a sua dívida externa, para não entrarem em incumprimento.
Mas sabendo que José Sócrates, não foi Primeiro-ministro, destes países todos nos últimos 6 anos, o que se passou, para que estes estejam numa situação económica cada vez mais próxima da nossa?
Aquando da crise financeira em finais de 2008, o sistema bancário estava em pré-ruptura, arrastando consigo o mercado imobiliário e prestes a destruir a economia mundial. Os Estados, articuladamente, tornaram-se os principais motores da economia, entre 2009 e 2010, à custa da dívida pública (a dívida pública dos países da OCDE passou de 80% do PIB em 2008 para 102% em 2011).
Para os países com uma boa capacidade económica instalada e com um tecido empresarial exportador competitivo, o facto de os Estados terem alavancado a economia, manifestou-se com o estímulo necessário para estas mesmas empresas tornarem-se o motor da economia.
Para as economias mais periféricas, em ajustamento estrutural, como a nossa ou como a Grécia ou Irlanda, por não haver um tecido produtivo ou até financeiro, suficientemente forte, os estímulos dos Estados, acabaram apenas por artificializar o crescimento das economias.
O grande problema que se colocou à Europa, é que assim que as principais potências económicas julgaram que o crescimento nos seus países era sustentado, convinha reduzir o risco da sua banca, às dívidas soberanas dos Estados mais frágeis. Os mercados financeiros realizaram exactamente o mesmo raciocínio.
Assim, países que necessitavam, desesperadamente tempo para se reestruturarem, viram, a meio do jogo, as regras mudarem, tendo de retirar milhares de milhões de euros da economia de estímulos económicos e entrando inevitavelmente em recessão.
Paralelamente, devido ao crescimento económico de alguns países e devido ao aumento dos preços das matérias-primas, a inflação disparou, na Europa, bem acima do objectivo de 3% estabelecido pelo Banco Central Europeu. Esta pressão inflacionista, está a criar um conflito, sem precedentes, na União Europeia, pois, por um lado, os países mais pujantes, como a Alemanha, querem subir as taxas de juro para não perderem poder de compra, sobretudo na importações de bens para posterior transformação e exportação, por outro lado, os países do sul, com as economias de rastos, necessitam, desesperadamente de taxas de juros mais baixas, para as suas empresas poderem investir.
Como se a situação já não fosse suficientemente má, os últimos dados, revelam um abrandamento económico mundial, com os Estados Unidos, Japão e agora também a Alemanha nesta situação.
A resolução desta crise, ao contrário das outras passadas, não tem solução conhecida, nem garantida, mas podemos estar certos, de que se continuarmos, neste caminho de ricos contra pobres, sul contra norte, na União Europeia, estaremos, inevitavelmente, condenados ao fracasso.
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