Estado da Nação
Praticamente acabada a silly season, assistimos progressivamente ao voltar à normalidade da discussão política séria em Portugal. Durante os meses de Julho e Agosto, os protagonistas políticos, geralmente, aumentam a sua agressividade discursiva, no sentido de chamar a atenção do público que quer aproveitar esta época para, trabalhando ou não, descansar do clima de permanente guerrilha partidária que costuma dominar este país.
No continente a preocupação com o local de férias dos líderes partidários, Marcelo Rebelo de Sousa incluído foi acompanhada pelo pessimismo habitual sobre o futuro da economia portuguesa. Para todos os espectadores que não conseguiram desligar a televisão a tempo, os Velhos do Restelo, que não foram de férias, anunciaram e informaram, estridentemente, que o Estado Social está falido, que o Serviço Nacional de Saúde e a Educação Publica não deveriam ser para todos, que a despesa do Estado está fora de controlo, que não seria possível emitir dívida portuguesa no mercado internacional, que o Governo da República do PS estava irremediavelmente abaixo do PSD nas intenções de voto, que o Partido Socialista estava envolvido no processo Casa Pia, que a Justiça em Portugal estava partidarizada, que o Queiroz estava a ser perseguido pelo Governo, etc. Foi tanta a desgraça anunciada, que pensei seriamente, que passar estes dois meses nos Açores sem ver a comunicação social nacional, seria uma boa ideia, para não ficar desmoralizado.
Engano meu. Por cá, a situação não foi muito melhor. Ao que parece, os velhos do Restelo residentes anunciaram que o turismo seria uma catástrofe nos meses de Julho e Agosto, que o serviço de transporte marítimo de passageiros inter-ilhas não iria funcionar, que o desemprego iria subir, que nada seria feito para estimular a procura turística dos Açores, no estrangeiro e no continente, que as tarifas promocionais a 100 euros, prometidas pelo Governo dos Açores, eram impossíveis de realizar, que o rendimento social de inserção nunca seria fiscalizado, que existiam poucas obras públicas nos Açores e que as autarquias açorianas não iriam conseguir pagar aos seus fornecedores.
Terminado este período caricato, verifiquei com algum espanto, que os velhos do Restelo se tinham enganado. Ao que parece ser velho do Restelo é mesmo isso: “(…) simboliza os pessimistas, os conservadores e os reaccionários que não acreditavam no sucesso(…)” ou feitos de Portugal.
Afinal, a OCDE considera que a reforma da Segurança Social é exemplo a seguir na Europa, que o Serviço Nacional de Saúde está entre os 15 melhores do mundo, que Portugal foi o país que mais subiu no ranking de educação da União Europeia, que apesar das debilidades de conjuntura económica, o desemprego tende a estabilizar, a emissão da divida portuguesa foi um verdadeiro sucesso, que o PS lidera as intenções de voto nas últimas sondagens, que a justiça tem mão de ferro contra os alegados abusadores de crianças e que o Queirós não percebe mesmo nada de futebol.
Nos Açores, o número de turistas subiu nestes dois meses, o transporte marítimo de passageiros funcionou praticamente sem crítica conhecida, o desemprego, apesar de ser sempre preocupante, desceu para o nível mais baixo do país, a Câmara do Comércio dos Açores, conjuntamente com o sector da hotelaria e apoiados pelo Governo dos Açores anunciou, novos pacotes turísticos mais atractivos para se viajar para a nossa terra, foram anunciadas novas regras para fiscalização e atribuição do rendimento social de inserção que começam a ser implementadas para a semana e o Governo da Republica anunciou que enviou para a aprovação de Bruxelas as novas tarifas promocionais de 100 euros.
Mas, desengane-se quem pensa que eu acho que os Velhos do Restelo não acertam uma. Acertam, sim senhores, e em cheio: a autarquia de Ponta Delgada não paga a tempo e horas aos seus fornecedores. Pois não. E agora? Despe e Siga?
1 comentário:
1) "os Velhos do Restelo, que não foram de férias, anunciaram e informaram, estridentemente, que o Estado Social está falido"...Bom, a endividar-se ao ritmo de 2,5 milhões de euros por hora, não se pode esperar/afirmar outra coisa.
2) "que o rendimento social de inserção nunca seria fiscalizado" Não digo que se deve retirar o RSI a quem realmente precisa, mas a verdade é que a fiscalização é insuficiente!Há muita gente a beneficiar sem necessidade nenhuma devido à incompetência do Estado no que respeita à fiscalização, basta dar umas voltas pelas freguesias de Angra do Heroísmo para perceber facilmente aquilo que acabo de escrever.
3)"Nos Açores (...) o desemprego, apesar de ser sempre preocupante, desceu para o nível mais baixo do país" Não sejamos ingénuos ao ponto de acreditar nisso. O desemprego não baixou, o que acontece é que há muitos jovens que não entram nas estatísticas de desemprego porque estão "entretidos" com o ESTAGIAR L, aquele programa fantástico que paga 750€ mensais aos licenciados para que não apareçam nas estatísticas durante um ano.
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