Quando falamos da “Grande Recessão” internacional e financeira pensamos sempre em algo longínquo que acontece nos Estados Unidos da América e nos grandes países da Europa. Temos sempre a tendência para considerar as dificuldades que vivemos no nosso meio (continente e Açores), se devem a factores próprios da nossa economia, o que, a meu ver, na maior parte dos casos, não é verdade. Penso ser interessante perceber, “grosso modo”, em que medida esses factores exógenos contribuíram para as nossas dificuldades, quais as nossas debilidades estruturais e quais as soluções que devemos apresentar para continuar a amenizar essas contingências e fazer com que a nossa terra saia mais cedo da crise.
A conjuntura internacional criou vários problemas à região, que resultaram em inúmeras dificuldades. Em primeiro lugar esta crise limitou o acesso ao crédito às empresas locais, impedindo-as de continuar os seus investimentos na mesma medida ou então obrigando-as a financiarem-se a custos proibitivos. Em segundo lugar, na maioria dos mercados internacionais existiu uma baixa generalizada dos preços dos produtos, ou seja, deflação, o que prejudicou, em alguma medida, a competitividade do nosso sector exportador e pelo facto do acesso ao crédito estar mais restritivo, não permitiu beneficiarmos de importações mais baratas. Em terceiro lugar, a região tinha em carteira um conjunto de investimentos externos, que por dificuldades nos seus mercados, pela dificuldade de acesso ao crédito e pela incerteza quanto ao futuro da economia nacional e internacional, preferiram suspender os seus investimentos para quando a conjuntura o permita. Em quarto lugar, a “Grande Recessão” atingiu fortemente, países, como o nosso, a Inglaterra, os países nórdicos ou a Alemanha, o que fez com que estes mercados emissores de fluxos turísticos para os Açores, sofressem uma grande contracção. Por último, a dificuldade de acesso ao crédito e a falta de confiança generalizada dos consumidores motivou com uma queda abruta no consumo e também, por exemplo, na compra de casas, o que motivou que muitas empresas ficassem numa situação de incumprimento com os seus fornecedores e trabalhadores, que por sua vez também ficaram em incumprimento perante outros, afectando assim toda a cadeia de valor.
É normal que muitos afirmem que a nossa economia já caminhava para estas dificuldades. É assim que funciona o jogo político. Mas tal afirmação carece, a meu ver, até hoje de sustentação. Sabemos que uma economia pequena e insular como a nossa devia sofrer, em larga medida, mais do que outras maiores e com mais história e por isso, com mais sustentação. Mas isso, como se comprova, não aconteceu. Apesar de antes da crise, muitas empresas já estarem no limite do endividamento, dos nossos sectores exportadores ainda carecerem de afirmação nos seus mercados, da maioria das Câmaras Municipais para além do seu endividamento, terem incentivado a um crescimento desmesurado do negocio imobiliário e do turismo ainda estar, na altura numa fase de crescimento ainda com pouca diversificação em termos de mercados emissores, o facto é que a nossa terra continua a ter uma taxa de desemprego abaixo da media nacional, um numero de falências reduzido e um crescimento económico acima do continente.
Mas para ultrapassarmos estas dificuldades todos temos de fazer o nosso papel. O Governo dos Açores, mantendo sempre o rigor na gestão contas públicas, imediatamente facilitou o acesso ao crédito lançando um conjunto de linhas de crédito às empresas e particulares de forma a estimular o consumo e o investimento privado, lançou programas de apoio ao emprego, na base da requalificação e reorientação profissional e aumentou o seu investimento público reprodutivo de forma a dar à economia regional e empresas regionais o estímulo económico que careciam. Ressalvo que de todas as adjudicações provenientes de investimento público governamental apenas 10,8% foram atribuídas a empresas de fora região. Infelizmente nem todos fizeram o seu papel. Alguns empresários optaram pela queixa permanente à espera que o Governo lhes fosse dar a mão. Outros, como a Câmara Municipal de Ponta Delgada, preferiam assobiar para o ar, como se não fosse nada com eles, passando o ónus da responsabilidade de competências suas, como a reabilitação urbana, para o Governo Regional, como se isso disfarçasse a sua total incompetência nessa área e fizesse os fornecedores esquecerem os milhões que lhes deve.
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