Tempos de Incerteza
Vivemos tempos de alguma esperança em relação às perspectivas futuras de crescimento económico das principais economias mundiais. O FMI prevê um crescimento, no ano de 2010, para a economia mundial, de 3,1% e para os Estados Unidos de 1,5%. As Bolsas de Valores têm visto os seus principais indicadores de referência valorizarem-se com crescimentos na casa dos dois dígitos. Das 104 empresas cotadas, nos EUA, que já publicaram as contas, 78%, conseguiram surpreender as expectativas dos analistas com os seus bons resultados.
Contudo, nem todos os sinais são animadores. O défice orçamental americano é tão elevado que põe em risco o estatuto do Dólar como moeda única de reserva mundial, tendo inclusive a agência de notação financeira Moody’s alertado que, caso os Estados Unidos não reduzam a dimensão da sua dívida pública, poderão perder o seu ‘rating’ de ‘Aaa. As Bolsas de Valores continuam muito instáveis, pelo facto de existirem ainda problemas credibilidade no sistema financeiro, que fazem com que à mínima dúvida ou anúncio de investigação governamental sobre uma empresa cotada, os principais índices mundiais tenham quedas abruptas.
Outras instituições e especialistas, como o BM ou Josef Stiglitz são pessimistas, referindo que a retoma será demorada e dolorosa para os países industrializados podendo ter efeitos ainda mais prolongados para os países em vias de desenvolvimento.
Desde o pós-guerra que as economias mundiais acostumaram-se a crises em forma de V, ou seja, em que as economias eram fortemente atingidas durante um curto espaço de tempo e após medidas estatais contra-cíclicas e logo recuperavam na mesma medida. Na década de 90 tivemos no Japão outro tipo de crise. A chamada crise em L, em que após uma queda abrupta de toda de todos os indicadores macroeconómicos, as medidas contra-ciclicas não resultaram, e o país entrou em estagnação económica e em deflação durante dez longos anos.
A percepção de que esta crise é diferente de todas as anteriores ainda não é generalizada no mundo. A única certeza que todos têm é que se não tivéssemos aplicado as novas medidas contra-ciclicas, porque o problema é diferente, a situação em que estaríamos seria bem pior. De facto, os mercados financeiros parecem recuperar, as taxas de juro mantêm-se propícias ao investimento, o preço do petróleo continua longe dos valores de Outubro do ano passado e algumas empresas conseguiram melhorar a sua quota de mercado através de fusões e aquisições. Contudo, apesar de muitas promessas, nenhuma reforma de fundo foi feita ainda no sistema económico internacional. Os paraísos fiscais continuam a funcionar na mesma medida, a regulação bancária e a segurança da notação financeira ainda é incipiente, a base energética dos países industrializados ainda são os combustíveis fosseis, o endividamento das economias continua a crescer em exponencial, ou seja, todas as condições que nos levaram a estar nesta situação continuam a vigorar na mesma medida. Daí que muitos especialistas, da Universidade de Johns Hopkins, defendam que tenhamos um novo tipo de recuperação económica em W. Esta teoria pressupõe que após a queda abruta que tivemos em 2009, 2010 e 2011 sejam anos de uma tímida recuperação, logo seguida, em 2012 por um crash económico ainda maior.
Teorias à parte, mais ou menos credíveis, há algo que poderemos ter todos a certeza: após esta Grande Recessão nada mais será como antes.
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