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Depois dos feitos todos a que se dedicou nos últimos meses; depois de ter calçado e descalçado dezenas de vezes as botas de cano alto e sola rija para as tempestades; depois de ter tido que brigar com a madrinha; o Fífia voltou agora às pantufas do Rei Leão e ao xaile de romeiro. Prevê-se, assim, que nos próximos dias, até porque são de época festiva, o vamos encontrar de touca com laçarote a amarrar no pescoço, escondendo as arranhadelas das lutas por que passou durante estes tempos. Porém, qual Viriato, vindo dos altos Montes Hermínios, depois de ter descansado à sombra de uma árvore, nosso Fífia já está pronto para as festas que aí vêm. Natal, passagem de ano e Carnaval, já constam da sua agenda. Este ano não falhará o costume de Palhaço, que no Fífia se resume a um grande e brilhante laço cor de casca de amendoim para dizer com os olhos, que dizem a mãe e as tias, parecem dois ricos feijões semeados na sua cara em obras, mas feliz. Com efeito, ninguém sabe porque é que tem a cara assim, mas não se importa. Todas as manhãs lá começa, circulando pela casa, a ginástica facial, que o faz fingir que ri, mesmo que esteja chorando. Esfrega uns cremes, umas quantas pomadas e até misturas caseiras, que as vizinhas, daimosas e solidárias lhe preparam com amor. Mas nada resolve as valas, que a dureza dos combates (digo eu) lhe impôs na cara mal traçada, que transporta dia-a-dia no seu pescoço de fidalgo. Ainda não fez as compras de natal, mas sabe já que para a mãe e tias vai comprar agulhas, canetas e papel. Sabe que o mais certo será precisar que estas boas costureiras lhe fabriquem novos factos para os dias, que hão-de vir, não muito longe nem muito perto. E, nestas coisas de ofertas, não há como deixar implícito, já de princípio, uma ideia de utilidade. A mãe e as tias sabem que se não fossem os seus conselhos, o Fífia não valia nada. Por isso, vão preparar rezas e mezinhas para prevenir que a oferta da madrinha o faça mudar de rumo. É que ninguém sabe se o Fífia aceita calçar o par de patins em linha, que a dita lhe quer oferecer… Essa dúvida, esse medo tem agonizado a família Fífia. O próprio está em dúvida sobre os propósitos reais da boa senhora, que em tempos, lhe passou água benta pelos angélicos cabelos. As tias não vivem sem ele, a mãe muito menos e as vizinhas, as da sua própria rua, duas casas acima e duas casas abaixo, não querem ver desaparecer o menino por quem nutrem uma certa simpatia…
1 comentário:
Coitado do Fífias, só ganha nas cartas... quando joga a "paciência"
J. Morais
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