Bem sei que a Câmara Municipal de Ponta Delgada se encontra em dificuldades financeiras, mas este facto não justifica, por si só, o autêntico marasmo em que o concelho se encontra.
Após uma campanha eleitoral que prometeu um novo desígnio e um novo estilo para Ponta Delgada, pouco ou nada se viu de novo, para além de um inegável estilo low-profile do seu Presidente, que contrasta positivamente da sua antecessora. O atual Presidente de Câmara é um homem sério, ninguém o nega, mas muito mal estamos nós em democracia quando este facto basta para qualificar a ação de alguém na atividade política.
É preciso mais!
Ponta Delgada é uma cidade parada e um concelho abandonado, em que os dias passam devagar, em inércia absoluta, em que a atividade da Câmara pouco mais se resume do que inaugurar obras da sua antecessora, a cerimónias de entregas de diplomas, a pequenos apoios a associações locais ou a uma boa programação cultural no Coliseu Micaelense.
Ponta Delgada pode ser muito mais do que isto e não é preciso gastar nem milhões, nem os poucos tostões que o Município ainda tem.
Falta imaginação, capacidade de inovação e de decisão!
É necessário centrar as atenções em pequenos investimentos modernizadores que possam ter um efeito multiplicador ao nível da qualidade de vida das populações e na vida das micro e pequenas empresas.
Ponta Delgada pode ser uma cidade de referência no Atlântico pelo seu potencial de relacionamento com mar, em todas as suas vertentes. Apesar de todo este potencial, a cidade e o concelho continuam de costas voltadas para o mar, como que se estivessem à espera, num típico “sebastianismo beato”, que uma outra entidade tomasse a iniciativa.
O PS de Ponta Delgada já o fez por diversas vezes e com pequenas propostas concretas, exequíveis e baratas. Propôs, por exemplo, que a agenda cultural e recreativa do Município fosse feita com uma antecedência de dois anos, beneficiando, sobretudo, a época baixa, para que os agentes turísticos e culturais possam programar a sua atividade e, com isso, reduzir a sazonalidade e gerar mais riqueza junto das nossas micro e pequenas empresas.
E propôs, também, um pequeno investimento, praticamente todo financiado por fundos comunitários, “que altera o perfil da atual circulação rodoviária, ciclável e pedonal no troço Sul entre a zona do edifício do Clube Naval de Ponta Delgada e a entrada para Avenida do Mar.”
Sobre estas propostas o município nada disse, nem nada fez.
O comércio tradicional continua em enormes dificuldades e a Câmara desperdiça, como se nada fosse, o potencial de riqueza gerado pelo desembarque em navios de cruzeiros, nas Portas do Mar, de mais de 80.000 passageiros ano.
Não é uma ideia nova, nem extraordinária. Será que já fizeram as contas e verificaram que cada passageiro gasta em média, num desembarque, 97,40 euros e cada tripulante 21,5 euros, podendo gerar um ganho potencial de perto de 7 milhões de euros, sem um grande investimento do município?
Qual é o atual retorno para a cidade? Que parcerias devem ser feitas?
O município não tem as respostas porque nem sequer faz estas óbvias perguntas.
Falta ter uma ambição, um mote, um objetivo para o Concelho, que, honestamente, ainda não consegui descortinar no atual projeto.
Ponta Delgada não tem de continuar a ser uma cidade e um concelho adiado.
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