Quando pensávamos que já nada mais
nos podia sobressaltar (ou mesmo envergonhar), nestes dias cinzentos e chuvosos
de Dezembro, eis que surge o casal Silva, na televisão, inaugurando uma
exposição de presépios.
Até aqui tudo normal. Nada impede
que o casal Silva ande pelos “caminhos de Portugal” inaugurando presépios e praticando
todo o tipo de acções de solidariedade, desde lanches com idosos, visitas a
lares de 3ª idade e ofertas às meninas e meninos institucionalizados.
Por mim não há problema nenhum. Acho
até bem. Escusavam era de aparecer na TV, na Rádio e nos jornais por causa
disso.
O que é que nos interessa saber
se Maria Cavaco Silva e o seu esposo, juntamente com alguns dos netos, inauguraram
em Bragança, num Domingo de Dezembro, uma exposição de presépios da própria,
cujas receitas reverterão a favor de um lar de crianças institucionalizadas?
Seremos obrigados a apreciar o
nosso casal presidencial, como os mais dedicados solidários do Natal, quiçá
concorrendo com o Jorge Gabriel, a Leopoldina ou os anúncios de brinquedos do
canal Panda?
Por quais “caminhos de Portugal”
andará o nosso casal presidencial, durante todo o resto do ano, quando crianças,
jovens, adultos e idosos também passam por dificuldades várias, face às
políticas tortuosas do Governo da República?
Será que o nosso casal
presidencial considera mesmo, que a sua ida a Bragança, para este acto
televisionado, fotografado e com som gravado, apaga da memória dos portugueses
os constantes silêncios do Presidente da República?
Ou acharão suas eminências que
por causa do barulho do pisca-pisca das luzes natalícias, e por causa da fé de
cada um, deixa de interessar todo o tempo, em que estiveram impávidos e
serenos, a assistir à devastação do país?
Não sei. A mim parece-me que o
objetivo da ida a Bragança era o de dar ao casalinho um ar poético, queridinho,
lindinho e caridoso… Se era, pois daqui digo que é feio, é mau e é inqualificável.
Maria e o seu esposo podiam ter
ido a Bragança, podiam até ter inaugurado a exposição, mas escusavam de nos
entrar casa dentro, na televisão e rádio, e depois nos jornais, com aquele ar
cândido, de quem acha que pode tudo e que ninguém percebe nada…
Há aquele ditado antigo que diz
que devemos “fazer o bem sem olhar a quem”. Mas os novos tempos transfiguraram-no.
Agora é assim: “eu faço o bem, ora olhem para mim”.
Todos querem dar qualquer coisa,
mas quase ninguém prescinde de criar um momento televisivo, para que se possa
ver a sua bondade e solidariedade…
É tempo de acabar com os
“presépios da Maria” que são a mais recente representação da caridadezinha
degradante e repugnante.
É que podemos, até, acreditar no
Pai Natal e dizer que ele existe às nossas crianças. Fazer tudo o que estiver
ao nosso alcance para que elas continuem a pensar que ele é o velho barbudo que
desce as chaminés e deixa brinquedos e coisas boas.
O que não podemos tolerar são os
“presépios da Maria”. Como sabemos nenhum dos membros do casal presidencial é
gordo, tem barbas ou desce chaminés.
É fundamental que no Natal, ou em
qualquer outra altura do ano, se compreenda que uma coisa é a fantasia, outra
coisa, completamente diferente, é a cobardia, disfarçada de bondade, de
solidariedade e de fraternidade.
Serenamente, AO 10 de Dezembro de 2013
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