Tenho de confessar que, apesar de considerar que o desemprego está a subir nos Açores, os números aferidos na sondagem telefónica do INE que apura estes dados, parecem-me manifestamente exagerados, senão mesmo contraditórios com outros dados de outras instituições.
Parece-me no mínimo estranho que nesta sondagem, o INE afirme, que existem no mês de Dezembro, nos Açores, 18.177 desempregados, quando o Instituto do Emprego e Formação Profissional, nos dados que fornece sobre os inscritos nos centros de emprego, refira apenas 9735 desempregados.
Apesar desta disparidade entre números, de quase 100%, entre estes dois organismos, é normal pensarmos que nem todos os desempregados se inscrevem nos centros de emprego, sendo, por isso, teoricamente possível, apesar da diferença de dados ser abismal, que possamos aceitar como reais estes dados. O que já não é normal, senão mesmo, impossível, é termos mais inscritos nos centros de emprego da Madeira, cerca de 19016 pessoas, do que aqueles apurados pela sondagem do INE, para a mesma Região, cerca de 17307 pessoas. Tal como carece de explicação, o facto de, neste mesmo mês, aumentarem os inscritos nos centros de emprego madeirenses, em cerca de 2,2% e o INE afirmar que o desemprego baixou 1,2 pontos percentuais.
Não quero com este tipo de argumentário fazer parecer que o desemprego não é um problema nos Açores, antes pelo contrário, o seu combate deve ser uma prioridade. Mas parece-me que este último trabalho do INE carece, pelo menos de melhor explicação.
Para percebermos melhor as razões do desemprego nos Açores, basta falarmos com os nossos empresários e ouvirmos o que têm para nos dizer.
Qualquer um nos dirá que já não é possível investir num negócio pois a banca praticamente não empresta.
No sector da construção civil, qualquer empresário nos dirá que as obras privadas estão reduzidas a quase nada, pois o crédito à habitação é praticamente inexistente.
No sector dos serviços, as medidas de austeridade do PSD, de Passos Coelho e Berta Cabral, fizeram baixar o rendimento das famílias para mínimos históricos, baixando o consumo exponencialmente e levando ao colapso de dezenas de pequenas e médias empresas.
No sector do turismo, qualquer agente do sector nos dirá, que o turista do continente “já foi chão que deu uvas”, devido à crise nacional e não fosse a aposta do Governo dos Açores, na diversificação dos nossos mercados emissores, que já significam mais de 50% dos nossos fluxos turísticos, a situação poderia ser insustentável.
Qualquer empresário nos dirá, que mesmo empresas saudáveis, não têm acesso em condições aceitáveis a contas caucionadas para adequarem o seu ciclo de pagamentos ao ciclo de receitas ou que devido à imagem de Portugal no exterior, são obrigados a pagar os produtos que importam, a pronto pagamento ou em adiantado.
São estes os principais motivos da crise no Continente e também nos Açores, que estão a levar a um fortíssimo ajustamento económico rápido, que não distingue empresas saudáveis de empresas falidas.
Cabe aos Governos amenizarem este ajustamento, quer através da ajuda ao financiamento da economia privada, quer no estabelecimento de medidas de proteção social para ajudarmos os que estão em dificuldades.
Nos Açores, o Governo Regional tem sido incansável, quer na criação destes mecanismos de apoio aos privados, quer na atenuação da austeridade nacional.
Precisamos de mais tempo para restruturarmos a economia nacional, da qual a economia regional depende diretamente e com isso pouparmos ao infortúnio muitas famílias e empresas.
Mas para o PSD de Pedro Passos Coelho e de Berta Cabral este ajustamento tem de ser feito já. Infelizmente, pelo que dizem, “custe o que custar”.
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